"Preocupa-me o 'gap', a distância crescente entre aquilo que os sistemas podem proporcionar e aquilo que as sociedades deles esperam", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, que falava na sessão de encerramento do encontro regional da Cimeira Mundial de Saúde, no Convento São Francisco, em Coimbra.
Segundo o chefe de Estado, a ação política contemporânea "corre atrás do tempo", sendo que, na área da saúde, essa corrida assume contornos "dramáticos".
"No domínio da saúde, o drama é este: Tudo aquilo que se atinja passa nesse minuto a ser óbvio e banal. O galope das exigências é imparável. São assim as sociedades atuais, porque são mediáticas, são inorgânicas, são ansiosas", disse.
Dissertando sobre as sociedades contemporâneas e o seu impacto na saúde, o Presidente da República afirmou que o mundo mediático contribui para um tempo "ainda mais acelerado relativamente ao tempo físico dos sistemas e das pessoas" e que as sociedades são inorgânicas porque já não há instituições, partidos ou parceiros sociais e económicos que "consigam enquadrar cabalmente as expectativas e cenários psicológicos e sociológicos em todas as comunidades".
Já sobre a ansiedade das sociedades, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que o mundo está num tempo não apenas de "fragmentação das pessoas", mas de uma "ansiedade constante" - um fenómeno que, acredita, não conhecerá "nem reversão nem recuo".
Perante este cenário, o chefe de Estado defendeu que é necessário "informação permanente e correcta para que não se descole da realidade social, lucidez analítica para que se identifique o mais essencial e urgente, capacidade de decisão com meios disponíveis minimamente suficientes para que não se adie o inadiável" e "poder de comunicação para que se explique o decidido, fazendo pedagogia, mesmo a mais árdua".
Para além de tudo isto, impõe-se também "serena confiança" e "paciência de todos" - dos que trabalham nos sistemas de saúde, mas também daqueles que, na comunidade, "contactam com os sistemas de saúde".
Durante o seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa apontou para os feitos que Portugal fez ao longo das últimas décadas na área da saúde, mas também apontou para novos desafios, como a globalização, o envelhecimento da sociedade, as limitações financeiras neste setor ou a transformação da família.
O encontro regional da Cimeira Mundial de Saúde, que começou na quinta-feira, reúne mais de 700 peritos, num evento em que o tema central é a saúde global dos países africanos.
Durante a reunião em Coimbra, foram apresentadas comunicações por cerca de 120 oradores de mais de 40 países, distribuídos por mais de 20 sessões de trabalho e quatro sessões plenárias, que abordam temas como a mortalidade infantil, cuidados de saúde após conflitos armados, doenças infecciosas, alterações climáticas, medicina digital, migração e saúde e acesso a vacinas.
[Notícia atualizada às 17:21]
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