"Coragem de afrontar um problema que é estrutural do nosso país e dar um passo para a coesão territorial mas, ao mesmo tempo, com sensatez, porque é um passo que tem de ser dado com um amplo consenso entre formações partidárias e com amplo consenso envolvendo parceiros económicos e sociais", disse Marcelo Rebelo de Sousa.

Discursando em Baião, onde participou nas cerimónias que assinalaram o 172º. aniversário do nascimento do escritor Eça de Queiroz, o chefe do Estado comentava o discurso que o presidente da câmara, Paulo Pereira, fizera antes e no qual apelara à descentralização de competências no país, para esbater as diferenças de desenvolvimento entre o litoral e o interior.

Marcelo Rebelo de Sousa disse ser sensível aos argumentos do edil local, recordando as suas origens no concelho vizinho de Celorico de Basto, onde foi autarca, quando aquele concelho era o mais pobre do país.

"No entanto, como Presidente da República, não posso deixar de ponderar a necessidade de isso [descentralização] se fazer não tanto pela afirmação do poder de um determinado momento, mas através de uma fórmula que possa durar para além dos governos, para além das maiorias conjunturais, possa ter sucesso em termos de mudança efetiva da vida das portuguesas e dos portugueses", indicou.

Marcelo Rebelo de Sousa lembrou: "Vezes demais temos tido promessa de reformas que se convertem em desilusões e não podemos correr o risco de uma desilusão".

Para o Presidente, "as tragédias recentes mostraram como é importante olhar para esse outro Portugal, para esses ‘outros portugais', insistindo que "os passos dados têm de ser seguros e firmes, que sejam sentidos na vida das portuguesas".

Para o chefe do Estado é preciso trabalhar para esses passos dados não sejam "desilusões" e "quimeras" ou realidades "que acabam por traduzir-se em frustrações a médio e a longo prazo".

Em Baião, o Presidente da República inaugurou hoje, no centro da vila, no interior do distrito do Porto, uma estátua em bronze do escritor Eça de Queiroz.

Marcelo Rebelo de Sousa visitou depois a sede da Fundação Eça de Queiroz, em Tormes, casa outrora habitada pelo romancista do século XIX, hoje um museu dedicado ao autor visitado anualmente por milhares de turistas.