Numa nota publicada no portal da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa considera que, ao premiar Chico Buarque, o júri do Prémio Camões reconheceu "naturalmente também o extraordinário escritor de canções, um dos maiores da língua portuguesa".

Esta decisão vem "na continuidade de uma marcante decisão da Academia Sueca" de atribuir o Nobel da Literatura ao músico norte-americano Bob Dylan, dando "à canção, género ancestralmente ligado à poesia, um estatuto de dignidade literária", refere o chefe de Estado.

"Premiar 'letristas' pode ser sujeito a discussão, mas premiar Chico Buarque só pode ser unânime, porque, tal como Bob Dylan para a língua inglesa, as canções de Chico traduzem um profundo conhecimento da tradição poética e um alargamento das fronteiras da linguagem musicada, trazendo um grau de sofisticação inédito à música que se diz, e bem, popular", defende Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República saúda, por isso, o júri do Prémio Camões que, "por unanimidade, lhe concedeu esta distinção, reconhecendo o romancista de 'Estorvo' ou 'Budapeste', o dramaturgo e argumentista, mas também o extraordinário escritor de canções".

"Por outro lado, a obra de Chico Buarque, conquistou, ao longo de várias gerações, um incomparável respeito e emoção no mundo lusófono, nomeadamente pelos seus empáticos retratos femininos, pela afinidade com os bons malandros, pelo empenhamento político, pelo amor ao Rio de Janeiro e ao Brasil, pelo trabalho sobre uma língua que, atravessando tanto mar, nos une", acrescenta Marcelo Rebelo de Sousa.

Chico Buarque, de 74 anos, foi anunciado na terça-feira como o vencedor do Prémio Camões 2019, após reunião do júri na Biblioteca Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro.

Escritor, compositor e cantor, nascido em 19 de junho de 1944, no Rio de Janeiro, Francisco Buarque de Hollanda estreou-se no romance com "Estorvo", em 1991, a que se seguiram "Benjamim", "Budapeste", "Leite Derramado" e "O Irmão Alemão", publicado em 2014.

Chico Buarque fora já distinguido duas vezes com o prémio Jabuti, o mais importante prémio literário no Brasil, pelo romance "Leite Derramado", em 2010, obra que também venceu o antigo Prémio Portugal Telecom de Literatura (atual Prémio Oceanos), e por "Budapeste", em 2006.

Em 2017, venceu em França o prémio Roger Caillois pelo conjunto da sua obra literária.

O Prémio Camões de literatura em língua portuguesa foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1988, com o objetivo de distinguir um autor "cuja obra contribua para a projeção e reconhecimento do património literário e cultural da língua comum".

Foi atribuído, pela primeira vez, em 1989, ao escritor Miguel Torga. Em 2018 o prémio distinguiu o escritor cabo-verdiano Germano Almeida, autor de "A ilha fantástica", "Os dois irmãos" e "O testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo", entre outras obras.