Uma nota da Presidência dá conta de que Marcelo Rebelo de Sousa "foi esta tarde internado no Hospital Curry Cabral para ser operado a uma hérnia umbilical", numa intervenção "há muito prevista para o início de janeiro, mas os médicos assistentes decidiram antecipá-la, por ter encarcerado", pode ler-se.
"O Chefe do Estado cancelou, por isso, toda a agenda de hoje, bem como as dos próximos dias, incluindo as deslocações previstas para 31 de dezembro e 1 de janeiro, à área da tragédia de outubro", acrescenta a mesma fonte.
O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, segunda figura do Estado, e o primeiro-ministro, António Costa, foram previamente informados do que iria acontecer, afirmou à Lusa fonte da presidência.
Ainda hoje será emitido um boletim clínico sobre o estado de saúde de Marcelo Rebelo de Sousa, de acordo com a Presidência. A cirurgia ao chefe do Estado foi feita pela equipa do médico Eduardo Barroso.
"Por definição, uma hérnia é um buraco", explica Paulo Alves, cirurgião geral no Hospital de Leiria e no Hospital Soerad, em Torres Vedras. "Neste caso — umbilical —, o umbigo é uma cicatriz, uma zona mais frágil, e há um buraco desta camada que reveste o abdómen", acrescenta.
Os motivos podem ter a ver "com os esforços, com o envelhecimento ou com a diminuição da resistência dos tecidos", levando à abertura de buracos nessas "zonas frágeis", explica o cirurgião ouvido pelo SAPO24.
O episódio que precipitou a intervenção tem a ver com a saída do conteúdo, através desse orifício. "Encarcerar é o conteúdo de dentro, do abdómen, que exterioriza através do orifício da hérnia e fica digamos que encravado, em termos comuns", explica Paulo Alves.
"É um orifício relativamente pequeno; com os esforços sai e depois não se consegue pôr para dentro". Se a situação se prolongar, isto é, "se ficar muito tempo encarcerada, com o aperto, pode comprometer a circulação e fazer gangrena [morte de um tecido], fazer necrose do que lá está dentro. Pode ser só gordura ou até uma zona intestinal", acrescenta o clínico de Leiria.
Intervenção "relativamente simples"
"Na maior parte dos casos, quando se programa — não como este caso de urgência —, faz-se em cirurgia de ambulatório, vão para casa no próprio dia. Quando é de urgência depende das condições locais, se existe gangrena ou não, qual é o estado da hérnia".
"Como não foi uma coisa programada, depende de como é que aquilo [a hérnia] está, como está encarcerado. Normalmente é uma cirurgia simples, com uma recuperação relativamente rápida, mas não se pode fazer esforços durante algum tempo para facilitar a cicatrização", explica Paulo Alves.
"O recobro para ir para casa é rápido, mas o recobro para fazer esforços demora mais tempo", diz. Mas a resposta "depende da pessoa, do tipo de trabalho que tem", diz ao SAPO24.
"Habitualmente aconselho, aos meus doentes, um mês sem fazer esforços, em média. Claro que pessoas que tenham profissões de pouco esforço já conseguem fazer a sua vida do dia-a-dia ao fim de duas semanas. Pessoas com trabalhos mais pesados convém dar mais tempo, tem de ser adequado a cada situação", conclui o cirurgião.
Agenda cancelada nos próximos dias
Na agenda de hoje, Marcelo Rebelo de Sousa tinha prevista uma ronda de audiências com representantes dos juízes e dos magistrados do Ministério Público para discutir o pacto de justiça e os estatutos destas duas classes e uma cerimónia de entrega de insígnias a Carlos Ramos, que salvou várias pessoas no acidente ferroviário de Alcafache, em 1985.
Em 01 de janeiro, é tradicional o Presidente dirigir ao país uma mensagem de Ano Novo, que este ano deveria ser feita a partir de Vouzela, um dos concelhos afetados pelos incêndios de outubro, região que ia visitar nesses dias.
Em 31 de dezembro, o Presidente tinha planeado visitar os concelhos de Oliveira do Hospital, distrito de Coimbra, e no dia 01 de janeiro de 2018 iria a Arganil, também no distrito de Coimbra, Santa Comba Dão e Vouzela, ambos no distrito de Viseu, de onde iria fazer, em direto, a mensagem de Ano Novo.
Marcelo Rebelo de Sousa passou o dia de Natal em Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pêra, concelhos afetados pelos incêndios de junho.
Ferro Rodrigues não substitui presidente da República
Marcelo Rebelo de Sousa não vai ser substituído temporariamente pelo presidente da Assembleia da República durante a operação ao chefe do Estado, disse à Lusa fonte do gabinete de Ferro Rodrigues.
“Considera o presidente da Assembleia da República que não existe essa situação [impedimento temporário], esperando que nunca exista”, segundo fonte do gabinete de Eduardo Ferro Rodrigues, que é a segunda figura na hierarquia do Estado Português, a seguir ao Presidente.
O presidente da Assembleia falou hoje de manhã pelo telefone com Marcelo Rebelo de Sousa.
O artigo 132.º da Constituição Portuguesa, recorda Ferro Rodrigues, não define claramente qual o tempo em o Presidente tem de estar impedido para ser substituído temporariamente.
Na sua nota, o presidente do parlamento “deseja muito rápidas melhoras do senhor Presidente da República”.
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