Esta é uma semana diferente na vida de Marco: o presidente do Governo dos Açores, Vasco Cordeiro, e uma comitiva da região estão de visita à Bermuda, a convite do 'premier' [chefe de Governo] local, para assinalar o feriado nacional que hoje se comemora e que foi instituído este ano como marco da chegada, há 170 anos, dos portugueses à Bermuda.

Marco Pacheco tem estado nos diversos eventos que têm marcado a visita oficial e à Lusa recorda o primeiro impulso para conhecer a Bermuda:"Estava a namorar, e a minha namorada, ela tinha família cá. Vim um Natal de visita, gostei, fiz uns biscates de trabalho, depois o tio da minha namorada perguntou-me se eu queria vir para cá".

Natural dos Fenais da Ajuda, a mais oriental das freguesias do concelho da Ribeira Grande, Marco veio há dez anos sem saber que, uma década volvida, já teria um filho nascido no território atlântico e toda uma série de vivências.

"No início morei numa casa com seis homens. Estive dois anos aqui sem a minha namorada, ela ficou nos Açores, e depois quando ela veio primeiro esteve numa casa de uns irmãos, só mais tarde morámos juntos", confidencia.

Marco trabalha em jardinagem, uma das áreas onde os portugueses têm maior empregabilidade na Bermuda. Ganha à semana, e o "dinheiro fresco" é bem vindo, mas 40 horas de trabalho por semana "só dá para viver", por isso é preciso "trabalhar mais".

"Todas as semanas temos dinheiro fresco. Mas é a tal coisa: se for para fazer 40 horas em jardinagem, construção, limpezas, o que a maioria dos portugueses faz, dá só para viver, as rendas são muito caras. Mas fazemos muitas horas, mais horas, é tudo pago à hora, com folhas de presença, e recebemos à semana", partilha.

O calor e a humidade da Bermuda são obstáculos, talvez menores que a falta de comida portuguesa e açoriana: há um café em Hamilton, maior cidade da região, mas "é pouco" e não mata as saudades.

Hoje ainda, o presidente do executivo dos Açores visita o Clube Vasco da Gama, fundado em 1935, responsável pela Escola Portuguesa, dedicada ao desenvolvimento e preservação da língua portuguesa.

Esta é a primeira deslocação oficial de Vasco Cordeiro à Bermuda, que foi destino da emigração açoriana desde meados do século XIX.

Estima-se que cerca de 20 a 25% da população da Bermuda seja descendente de portugueses, dos quais 90% de origem açoriana.

Se, relativamente aos outros destinos da emigração açoriana, a maioria dos emigrantes eram oriundos de todas as ilhas dos Açores, no caso da Bermuda, são, maioritariamente, naturais de concelhos específicos de São Miguel.

A Bermuda foi, assim, o terceiro grande destino da emigração açoriana, após Brasil e Estados Unidos da América.

­Relativamente aos processos que foram tratados diretamente pela Direção Regional das Comunidades dos Açores, apurou-se, de 1960 a 2018, um total de 8.626 cidadãos portugueses da região que saíram para a Bermuda com contrato de trabalho, para exercerem diversas atividades profissionais, nomeadamente nas áreas da construção civil e jardinagem.

De 2013 a 2018 saíram da região 389 cidadãos dos Açores, e este ano, de janeiro a 13 outubro, saíram da região 80 cidadãos açorianos com contrato de trabalho para a Bermuda.

A visita à Bermuda, cuja diferença horária para Lisboa é de quatro horas a menos, arrancou no sábado e termina na terça-feira.

*Por Pedro Primo Figueiredo/Agência Lusa