Numa mensagem disponível no 'site' da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa refere que apresentou as condolências à família de Maria Guinot, que morreu este sábado, aos 73 anos.

“Compositora, pianista, cantora, Maria Guinot representou Portugal no Festival Eurovisão em 1984, e é conhecida de muitos pela canção 'Silêncio e tanta gente'", destaca Marcelo Rebelo de Sousa, na mensagem.

O Presidente da República recorda o percurso da cantora, “de formação musical clássica” e que fez parte do coro Gulbenkian mas também se interessou pelo fado”.

“A sua carreira compreende tanto as canções que a levaram por duas vezes ao Festival da Canção como um reportório politicamente interventivo, nomeadamente em colaboração com José Mário Branco, manifestação de uma cidadã empenhada que também foi”, assinala o Presidente da República.

A cantora, compositora e pianista morreu no sábado, aos 73 anos.

O velório realizar-se-á hoje a partir das 17:00 na Igreja da Parede (Cascais) e as cerimónias fúnebres estão marcadas para as 10:45 de segunda-feira, seguindo depois o funeral para o cemitério de Barcarena, disse à Lusa fonte da Paróquia da Parede.

Maria Guinot - Maria Adelaide Fernandes Guinot Moreno - participou no Festival RTP pela primeira vez em 1981, com "Um Adeus, Um Recomeço", que lhe garantiu o 3.º lugar.

Foi, porém, em 1984, quando venceu o Festival RTP com "Silêncio e Tanta Gente", que o seu nome chegou ao grande público.

A interpretação ficou na memória: em solidariedade com os músicos em greve, Maria Guinot recusou o ‘playback’ adotado nessa edição, e acompanhou-se a si mesma ao piano.

Em 1986, compôs "Homenagem às mães da Praça de Maio", nos dez anos do início da concentração das mulheres que, em Buenos Aires, exigiam saber dos filhos desaparecidos durante a ditadura militar argentina (1976-1983).

A canção foi incluída no duplo álbum da CGTP-Intersindical “Cem anos de Maio” e foi uma das ‘bandeiras’ do programa "Deixem Passar a Música", da RTP, no qual Maria Guinot foi acompanhada por José Mário Branco, que produziu e dirigiu a orquestra.

No ano seguinte, lançou o seu primeiro álbum, "Esta Palavra Mulher", numa edição de autor.

Seguir-se-ia, em 1991, "Maria Guinot". Até 2004, quando foi editado “Tudo Passa”, não há registo de outros disco de Maria Guinot.

Escreveu, porém, “Histórias do Fado” (1989), com Ruben de Carvalho e José Manuel Osório, e manteve a intervenção política e social: subscreveu a saudação ao 30.º aniversário da Revolução Cubana, em 1989, com o ator Rogério Paulo, os escritores José Saramago e Natália Correia; condenou a política de não admissão de mulheres por bancos privados portugueses, no manifesto “Dizemos Não Aos Bancos Com Preconceitos”, no início dos anos de 1990; fez parte do movimento pela despenalização do aborto e da Frente para a Defesa da Cultura, que, na época, marcou a contestação do setor.

Em 1991, atuou em Cabo Verde, no Dia de Portugal. Em 1994, nos 20 anos do 25 de Abril, montou o espetáculo "Os Poetas de Abril", com a atriz e encenadora Fernanda Lapa.

Afastada do ativo desde 2010, por doença, recebeu, em 2011, a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores.