“Ainda há bocado cruzei-me com um casal na rua e o marido disse 'ah! agora vejo-a ao vivo. Só a conhecia pela televisão'. E a senhora estava a dizer 'mas eu já a vi aqui em Almada umas três ou quatro vezes pelo menos'. É a prova de que sou daqui”, diz-nos Maria Luís Albuquerque entre sorrisos.
Antiga ministra das Finanças, professora universitária, economista e vice-presidente do Partido Social-Democrata, Maria Luís Casanova Morgado Dias de Albuquerque é candidata à Assembleia Municipal de Almada, fazendo par com Nuno Matias, candidato à presidência da autarquia. Maria Luís é natural de Braga, mas crê que esse não é um tema relevante que interfira na sua dedicação e entrega para com os almadenses. Desde as eleições legislativas de 2011 que a a deputada da Assembleia da República concorre como cabeça de lista pelo distrito de Setúbal. É neste distrito que tem o seu “coração político”, diz.
"Não, não sou natural de Almada, mas conheço já os militantes de Almada há bastante tempo, eu concorri sempre [às legislativas] pelo distrito de Setúbal e tenho acompanhado mais de perto os concelhos de Almada e Seixal, mesmo ainda antes das autárquicas”, conta ao SAPO24, revelando que costuma ir a Almada “com muita frequência”. “Aliás todas as pessoas que moram em Lisboa vêm muitas vezes aqui ao concelho, mais que não seja para vir à praia”, brinca a candidata.
Na verdade, ser de fora, confessa-nos a social-democrata, é um trunfo. Porquê? Porque permite ver as coisas com outra distância. "Eu acho que provavelmente há muita gente que mora aqui e que não conhece tantos problemas como eu conheço, porque simplesmente não tem de lidar com eles. Às vezes o sítio onde nós moramos nem é necessariamente aquele cujos problemas conhecemos melhor”, diz.
A atividade política fez da deputada do PSD uma observadora atenta que “naturalmente presta atenção a outras coisas e não apenas àquelas que afetam a sua vida do dia-a-dia. O que é normal, repare. É absolutamente natural. Eu olho para as coisas com uma perspetiva diferente", explica-nos.
Ao SAPO24, Maria Luís Albuquerque conta que essa perspetiva é para se manter uma vez que não planeia mudar-se para Almada — mora atualmente em Parede, Cascais — mesmo que seja eleita presidente da Assembleia Municipal. “Não é coisa que tenha pensado, nem me parece que seja um requisito. O que importa é a disponibilidade para estar cá, a participar naquilo que seja necessário, para contactar com os munícipes, estar disponível para trabalhar por Almada. Se durmo aqui no concelho de Almada, se vou a casa num outro sítio não me parece que seja relevante, sinceramente", reitera, sublinhando que a sua disponibilidade para o cargo para que for eleita “será total”.
Em Almada, contra as hegemonias, marchar, marchar
A história da Câmara Municipal de Almada no pós-25 de Abril resume-se à hegemonia do PCP. Desde que se virou a página da ditadura e se passou a viver em democracia que a autarquia almadense foi gerida por comunistas, sem nunca ter caído nas mãos de outro partido. Ora, para Maria Luís Albuquerque a história é história, e o seu maior adversário é outro. Também hegemónico em Almada, mas que, de acordo com a deputada social-democrata, tem roubado muito mais votos ao PSD: a abstenção.
"Verdadeiramente, a hegemonia nas autárquicas em Almada tem sido a da abstenção. A abstenção em Almada foi particularmente alta nas últimas eleições [acima dos 50%], o que significa a maioria dos eleitores de Almada não votou. Essa é que é a força dominante”, salienta a candidata à Assembleia Municipal.
Tal dado torna-se mais relevante para a candidatura laranja quando nas legislativas de 2011 e 2015 o PSD conseguiu resultados acima dos 20% em Almada, sendo mesmo a segunda força mais votada. Acreditando que o ciclo da CDU neste município pode chegar ao fim no dia 1 de outubro, Maria Luís Albuquerque crê que pode extrapolar os resultados das legislativas para estas autárquicas, sobretudo sensibilizando as pessoas a irem votar.
"A questão aqui tem a ver com a abstenção. A abstenção em autárquicas é muito superior, está a ser feito um esforço muito grande para passar esta mensagem, porque há muitas pessoas que votam nas legislativas, que votam até no PSD, e depois nas autárquicas não votam. Não se reveem. E nós temos feito um esforço muito grande para explicar às pessoas que é importante que todos participem e que isso pode, de facto, fazer a diferença. Nós em 2011 tivemos 24 mil votos em Almada. A CDU ganhou a Câmara em 2013 com 23 mil, portanto se se conseguisse fazer com que essas pessoas votassem nas autárquicas com a mesma dimensão com que votam nas legislativas... [Conquistar a Câmara] é um objetivo perfeitamente alcançável”, reiterou.
Pela iniciativa privada, com certeza
Para convencer os almadenses, a candidatura do PSD quer apostar no investimento privado, uma inversão de tendência em relação à ideologia da CDU que Maria Luís Albuquerque classifica como “pouco amiga da iniciativa privada”. “Não acreditam nos méritos da iniciativa privada para criar riqueza e uma boa parte do que justifica, muitas vezes, a sua manutenção do poder é precisamente o facto de gerarem dependência das populações relativamente aquilo que é o emprego público, aquilo que é o trabalho relacionado com o poder da Câmara”.
Para a candidata um dos maiores exemplos da falta de investimento e de iniciativa privada no concelho é a universidade, a Faculdade de Ciência e Tecnologia, um pólo da Universidade Nova de Lisboa, “um centro de conhecimento que não tem espaços à volta e condições para que haja aqui startups e empresas empreendedoras que possam potenciar a ligação à universidade. É algo que a CDU não tem feito, aliás, basta olhar para o que tem sido estes 40 anos para perceber que não há atração de investimento privado para Almada”, diz.
Maria Luís Albuquerque diz que quer colocar o “concelho a progredir verdadeiramente” e, sobretudo, “a aproveitar as oportunidades que têm sido desperdiçadas".
E o que tem sido desperdiçado? Na opinião da candidata, principalmente, a costa atlântica com “um conjunto de praias absolutamente fantástico que não tem condições para receber turistas”.
“Não há investimento e criação de emprego, a maior parte das pessoas de Almada acaba por ter que ir trabalhar para Lisboa, com todos os problemas de mobilidade que isso coloca. O trânsito, os transportes”, enumera a deputada do PSD, acrescentando que necessário criar “condições para haver investimento dentro do concelho, para que as pessoas não tenham, a menos que queiram, de se deslocar para Lisboa, com todos os inconvenientes que isso traz para a sua vida. Que possam ter uma vivência mais plena no concelho, incluindo oportunidades de emprego”.
Maria Luís Albuquerque só pede, no final, que Almada, concelho do distrito a que pertence o seu “coração político” dê uma oportunidade a outras ideias e outro executivo para que possam demonstrar que “conseguem fazer melhor”.
A Câmara Municipal de Almada é liderada por Joaquim Judas (CDU), que venceu as últimas eleições autárquicas com maioria absoluta e se recandidata ao cargo nas eleições de 1 de outubro.
O executivo municipal tem também representação do PS e do PSD.
Concorrem também à Câmara de Almada Nuno Matias (PSD), Artur Alfama (PAN), Inês de Medeiros (PS), António Pedro Maco (CDS-PP) e Joana Mortágua (Bloco de Esquerda).
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