Protagonizada por Leonardo DiCaprio, Robert DeNiro, Lily Gladstone e Jesse Plemons, a produção mostra como a tribo indígena Osage, que ficou milionária depois de encontrar petróleo na sua reserva, foi alvo de múltiplos assassinatos e de uma conspiração para lhes retirarem as propriedades.

“O que eu queria captar era a natureza do cancro que criou uma sensação de genocídio vagaroso”, disse o realizador Martin Scorsese, numa conferência de imprensa em Los Angeles para o lançamento da longa-metragem.

Aclamado pela crítica ainda antes de ir para os cinemas, o argumento do filme original da Apple baseia-se no livro com o mesmo título, publicado em 2017 pelo jornalista norte-americano David Grann.

O livro contou como, no início da década de 1920, a nação Osage era considerada a mais rica do mundo ‘per capita’, com milhões de dólares provenientes da extração do crude encontrado na sua reserva em Oklahoma — para onde tinha sido remetida quando foi forçada a sair do Kansas.

Uma prosperidade desta natureza chocava com a imagem que a sociedade americana da época tinha dos nativos. Vários membros da tribo apareceram assassinados, foi montado um esquema para usurpar os seus bens, e o Congresso restringiu legalmente os gastos que os índios milionários podiam fazer.

“Esta é uma história que continua”, disse Martin Scorsese, referindo que nos seus primeiros contactos com a atual nação Osage encontrou reticências e cautela inicial.

“Quis garantir-lhes que não ia cair na armadilha dos clichés e ia contar a história da forma mais verdadeira possível”, afiançou.

Desde o trabalho de pré-produção, que começou em 2019, até às filmagens diárias, Scorsese teve sempre apoio das autoridades da nação Osage para garantir que tudo estava de acordo com as suas tradições e continha exatidão histórica. Desde casamentos a funerais e rituais de escolha de nomes, contou.

Era muito importante “lidar com a cultura de uma forma respeitosa sem cair na narrativa de Rousseau e o nobre selvagem”, vincou Scorsese. O objetivo foi ter “autenticidade, respeito e dignidade, e contar a verdade o melhor possível”.

A atriz Lily Gladstone, de origem indígena, foi fundamental para isso. Scorsese elogiou o seu ativismo e disse que não se sobrepôs à sua arte, pelo contrário: “A arte estava no ativismo”, considerou. ”Precisávamos da ajuda dela para contar as histórias das mulheres”, referiu ainda o realizador.

Com espaço para cenas improvisadas, Scorsese contou como o ponto de vista do filme mudou ao longo do processo. Aquela que ia ser uma história contada de fora, a partir do agente do FBI Tom White, que investigou os assassinatos, tornou-se numa narrativa vivida por dentro.

Leonardo DiCaprio decidiu não interpretar Tom White e encarnou Ernest Burkhart, um norte-americano branco que casou com uma índia Osage (Mollie/Lily Gladstone) e teve um papel integral na sequência de assassinatos na tribo.

“É uma história de pecado por omissão, de cumplicidade silenciosa”, caracterizou o realizador. “Começámos de dentro para fora”.

Tom White acabou por ser encarnado por Jesse Plemons e essa história paralela sobre o nascimento do FBI foi apenas levada até um certo ponto neste filme.

Scorsese referiu que DiCaprio, DeNiro (William Hale) e Lily Gladstone aprenderam a língua Osage e queriam ter mais cenas em que a falavam.

O realizador disse que há um ressurgimento do idioma nas novas gerações da tribo, depois de muitas décadas a perderem contacto com a língua e outros rituais.

Lembrou também que muita desta história foi enterrada nos últimos cem anos. ”Isto não era falado quando eu cresci”, disse Scorsese. “As pessoas envolvidas, as suas famílias, ainda lá estão”.

“Assassinos da Lua das Flores” estreia-se em Portugal na quinta-feira, 19 de outubro, e nos Estados Unidos na sexta-feira, 20 de outubro. Depois da passagem pelas salas de cinemas, estará disponível na plataforma de streaming Apple TV+.