Delegações do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) entregaram esta terça-feira na residência oficial do primeiro-ministro, António Costa, uma carta em que apelam à sua intervenção política depois do fim da greve agendada para quarta-feira e quinta-feira, e para a qual estimam uma “boa adesão”.
“Aquilo que nós vimos é que a negociação somente com os dois secretários de Estado esgotou e, portanto, é preciso subir outros patamares a nível governamental que possibilitem encontrar soluções para problemas que são inadiáveis”, disse aos jornalistas o presidente da FNAM, Mário Jorge Neves, à saída do Palácio de São Bento, depois de entregue a missiva.
Tanto a FNAM como o SIM criticam a ausência do ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes da mesa das negociações que já decorrem há mais de um ano, e querem que esteja presente já na próxima reunião, que, afirmaram os responsáveis sindicais, pode acontecer já na sexta-feira, o dia seguinte à greve, se o Governo quiser.
“Se alguém nos empurrou para a greve foi o Ministério da Saúde. E pelo menos na próxima mesa de negociação, que pode estar aberta já na próxima sexta-feira, esteja lá o doutor Adalberto para cara a cara ultrapassarmos estas questões”, afirmou o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha.
A necessidade de as negociações incluírem daqui em diante um representante do Ministério das Finanças caberá ao primeiro-ministro determinar, defendeu Mário Jorge Neves, que espera de António Costa “uma orientação política geral de que a saúde deve ser um dos setores prioritários”.
Para Mário Jorge Neves, “neste momento o Ministério da Saúde tem esgotadas as suas capacidades de diálogo e de resolução dos problemas”.
“Portanto, ao virmos aqui entregar um documento em que solicitamos a intervenção política do senhor primeiro-ministro é sobretudo um alerta para a sociedade e Governo de que há problemas que não é possível adiar mais a sua solução e que o primeiro-ministro ao tomar formalmente conhecimento deles, se não atuar, será responsabilizado pela opinião pública em geral e pelos médicos em particular”, defendeu.
Roque da Cunha referiu-se ainda a tentativas de limitar o impacto da greve, dando o exemplo da marcação de reuniões para quarta-feira, primeiro dos dois dias de greve, no Hospital São Francisco Xavier e num centro de saúde do Algarve.
“Esse tipo de brincadeiras será denunciado por nós. A verdade é que não forçamos ninguém a fazer greve, não temos piquetes de greve, as pessoas são livres de a fazer. Aquilo que solicitamos por parte do Ministério da Saúde é que nos levem a sério. Este ano e dois meses de negociação não serviu para praticamente nada”, disse.
A “indignação generalizada” nos locais de trabalho e um sentimento de revolta entre os médicos levam Mário Jorge Neves a acreditar numa “boa adesão à greve”.
“Quem anda no terreno sente há muito tempo esta revolta e esta indignação, que vão ser corporizadas na enorme adesão que nós estamos certos que irá ocorrer amanhã [quarta-feira] e depois de amanhã [quinta-feira].
Os médicos estão em greve nacional na quarta e quinta-feira, uma paralisação convocada pelos dois sindicatos e que é a primeira destes profissionais com que se confronta o atual ministro Adalberto Campos Fernandes.
SIM e FNAM convocaram a greve, que conta com o apoio da Ordem dos Médicos, depois de um ano de negociações com o Governo, dizendo-se saturados de promessas não concretizadas e até de recuos por parte do Executivo, além de se queixarem de “deliberado desrespeito”.
Entre as principais reivindicações estão a redução do número de horas em urgência, a redução do número de utentes por médico de família e o pagamento integral de trabalho extraordinário.
O Ministério da Saúde diz que está “empenhado no diálogo” com os sindicatos médicos, indicando que nos últimos meses foi possível chegar a acordo em áreas importantes, como a reposição do valor das horas extraordinárias em 2017. O Governo indica também que rejeita negociar sob pressão.
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