“O plano de vacinação está em zig zag. Existem estruturas onde as pessoas deviam estar todas vacinadas e não estão, depois salta-se para outros grupos que se definem como prioritários, mas já são prioritários de segunda linha. Temos de vacinar rapidamente os profissionais de saúde todos porque são eles que tomam conta de nós”, disse Miguel Guimarães, após uma visita ao Centro Hospitalar e Universitário de São João (CHUSJ), no Porto.
O bastonário da OM disse que tem falado muito da vacinação, "não por causa das pessoas que estão a ser vacinadas e não deveriam por não serem prioritárias, mas por preocupação com os dois principais grupos prioritários”, somando aos profissionais de saúde, as pessoas com 80 anos ou mais.
“A vacinação nestes grupos, que são os principais e prioritários, continua atrasada”, criticou.
Miguel Guimarães recordou que as “fundamentações que têm levado todo o mundo a priorizar os profissionais de saúde na vacinação são a ética utilitária e a maior exposição ao risco", para apresentar números que colocam Portugal “muito longe da maior parte dos países europeus” na administração de vacinas a médicos.
“Estive em contacto com as várias ordens europeias (…). A Áustria já vacinou 67% dos médicos, a Alemanha todos os médicos, a Croácia e a Itália 90% e França vacinou 70% dos médicos com mais de 50 anos”, referiu.
Quanto a Portugal, Miguel Guimarães disse que não tem esse dado, mas que os números do fim de janeiro davam conta de que estavam vacinados 30% a 35% dos médicos do Serviço Nacional de Saúde e 10% do setor privado e social.
“Continuo a ter muitas mensagens de médicos que não foram vacinados”, disse.
“No Hospital de São João faltam vacinar meia dúzia de médicos, mas ainda assim, num hospital que trata milhares e milhares de doentes e imensos covid-19, continua a ter cerca de 2.000 pessoas que ainda não foram vacinadas”, referiu Miguel Guimarães.
Questionado sobre estes números e sobre se tem comunicações da tutela sobre quando poderá ser completada a vacinação no CHUSJ, o presidente do conselho de administração do centro hospitalar, Fernando Araújo, esclareceu quais os profissionais em causa e disse aguardar com serenidade.
“Aguardamos serenamente a informação da tutela. É verdade que a grande maioria dos profissionais da linha da frente estão vacinados. Estes cerca de 2.000 profissionais são da informática, aprovisionamento, recursos humanos e profissionais que tiveram a infeção no passado e desejam ser vacinados”, disse.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.325.744 mortos no mundo, resultantes de mais de 106,4 milhões de casos de infeção, enquanto em Portugal morreram 14.557 pessoas dos 770.502 casos de infeção confirmados.
Bastonário quer “rapidamente” ‘task force’ para doentes não covid
“É absolutamente essencial [pôr em prática o Plano de contingência para doentes não covid]. Neste momento é uma das medidas mais importantes. A sugestão que deixo à ministra da Saúde é que rapidamente ative a ‘task force’ dessa área se é que ela existe”, disse também o bastonário.
Miguel Guimarães defendeu que “é preciso que os médicos de família tenham mais tempo para ser os seus doentes de sempre”, considerando decisivo “libertá-los de algumas tarefas” para acelerar a resposta a doentes não covid.
“Quando esta situação da covid-19 terminar vamos ter dois tsunamis. O da economia que tem impactos sociais enormes. E o tsunami da saúde. A saúde vai ter muito impacto nos doentes não covid-19. Temos já de começar a atuar no terreno nesta matéria. Acho que nunca existiu um plano de recuperação dos doentes não covid pelo menos que fosse público e que fosse generoso e com eficácia”, disse Miguel Guimarães.
Fernando Araújo, também questionado sobre esta matéria, disse que “os doentes não covid são um enorme motivo de preocupação”.
“Atualmente um e cada três doentes não está a chegar aos hospitais e se a incidência das patologias não reduziu, significa que vamos tê-los mais tarde em piores condições clínicas, mais graves e isso é algo que temos de impedir e reverter. E oncologia temos assistido a doentes que recorrem ao hospital mais tardiamente e com condições clínicas mais complexas e mais difíceis de tratar”, disse Fernando Araújo.
O responsável do CHUSJ defendeu que “deve existir um plano a nível nacional que consiga inverter esta realidade”, falando em “impacto muito relevante a médio e longo prazo”.
“Alguns especialistas a nível nacional e europeu apontam que a esperança média de vida pode ter um retrocesso pela primeira vez em muitos anos.
É um motivo de preocupação e tentamos que estes doentes não tenham a sua resposta adiada ou suspensa”, disse o responsável por um hospital que acolhe hoje 120 doentes covid-19, dos quais mais de 50 em unidade de cuidados intensivos.
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