"A dimensão de Machel é a dimensão da nossa própria nação", disse à Lusa o escritor moçambicano, destacando o interesse pelo bem-comum como uma das mais importantes qualidades nos 11 anos de liderança de Samora Machel em Moçambique.

Apesar de admitir que críticas podem ser feitas ao seu modelo de governação, marxista-leninista, o autor disse que "a entrega honesta" de Samora Machel aos problemas dos moçambicanos logo após a independência fez dele um "verdadeiro líder", revelando ser um conhecedor do seu povo.

Para Mia Couto, a honestidade e transparência que marcaram a administração do primeiro Presidente de Moçambique deixam "muitas saudades", principalmente num momento em que são cada vez mais raras as lideranças políticas com estas qualidades.

"Samora conhecia o seu povo", referiu o ex-jornalista, observando que, num momento em que o país precisava de um elemento regularizador da vida social, Machel teve a coragem e força moral de dar o exemplo.

"Ele tinha o poder e, realmente, liderava o seu povo", frisou o escritor, lembrando o sentido de militância que existia na Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) durante a liderança de Machel.

"Ele é o fundador e o nome inicial", concluiu Mia Couto, acrescentando que a nobreza de Samora Machel está no facto de ter sempre como prioridade o interesse do povo moçambicano.

Nascido a 29 de setembro de 1933, em Chilembene, na província de Gaza, sul de Moçambique, Samora Machel morreu a 19 de outubro de 1986, quando o avião presidencial em que seguia, um Tupolev de fabrico russo, se despenhou na localidade sul-africana de Mbuzini.

As autoridades moçambicanas mantêm até hoje a versão de que o avião foi derrubado intencionalmente pela África do Sul.