"Acho que tem de se dar visibilidade. Como membro de uma família com pessoas LGBTI+, eu acho que todos nós somos poucos para dar visibilidade", disse à Lusa Marta Gomes, de 54 anos.
A participante levava consigo um cartaz em que se podia ler "Se sabes dizer Gucci ou Balenciaga, sabes dizer LGBTI+", criticando quem "tem medo de dizer" a sigla mas sabe "dizer palavras anglófonas e francesas".
Questionada acerca da polémica que marcou a marcha deste ano, relacionada com o seu possível término fora do centro da cidade, Marta Gomes considerou que foi "uma maneira de tentar não dar visibilidade, de mandar as pessoas para zonas mais escondidas”.
"Estas pessoas fazem parte da cidade, são portuguesas, são portuenses, fazem parte do país, têm os mesmos direitos. Não sei porque queriam mandar para um sítio escondido, quando às vezes coisas com menos visibilidade são postas na montra", criticou.
Ao longo das várias horas entre a deslocação a partir da Praça da República e a concentração no Largo Amor de Perdição e em toda a zona da Cordoaria, o clima foi de festa constante.
Liderados por uma carrinha 'pick-up' branca com várias pessoas a dançar nas traseiras, sempre ao som de música bem alta, o cortejo fez-se ouvir também com cânticos e palavras de ordem como "O corpo não binário é revolucionário", "Assim se vê a força LGBT" ou "Ocupamos a cidade contra a invisibilidade".
Outros cânticos mais bem-humorados inspiravam-se noutras lutas para, ao conhecido ritmo do cântico da central sindical CGTP, entoarem espaçadamente "LGBT, liberdade sexual".
Ainda na Rua de Cedofeita, Raquel Cardoso, de 19 anos e orgulhosa por estar presente, reiterou a ideia de que "de certa forma" houve alguma intenção de retirar visibilidade à marcha.
"Acho mesmo que tem de ser no centro para mostrar à maioria das pessoas o que é que nós somos e quem nós somos. Nós existimos e não devemos ser desvalorizados", acrescentou.
A jovem considerou ainda que os perigos para a comunidade LGBTI+ (sigla de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, intersexuais e outras orientações sexuais e identidades de género) persistem, "principalmente devido a alguns movimentos políticos".
Ao longo do caminho também se faziam notar cartazes como "A minha avó sempre disse para eu comer tudo", "Não há cura para a minha existência, só orgulho e resistência", "Não estão cá todas, faltam as mortas" ou "Gisberta sempre", recordando a transexual brasileira assassinada no Porto em 2006.
Filipe Nadzhafov, de 17 anos, que participava pela primeira vez na marcha, afirmou-se "muito contente com a organização, em geral", observando que ninguém estava excluído.
"Foi uma pena, de facto, que o presidente da Câmara [Rui Moreira] esteja… não contra nós, mas não nos tenha dado o apoio de que nós precisamos. Mas mesmo assim conseguimos organizar isto", sublinhou.
Numa partilha mais pessoal sobre o seu percurso, o jovem recordou o seu crescimento - "tempos muito difíceis em que não sabia o que era".
"Agora vejo que, de facto, estou dentro de uma comunidade e sinto-me muito melhor comigo e muito mais saudável, [bem como] muito mais feliz e muito mais aberto", contou.
A chegada ao Largo Amor de Perdição - onde, sem a definição de arraial, se assentou a marcha, convocada ao abrigo do direito à manifestação - foi marcada por muito barulho e um forte dispositivo musical, para toda a gente ver e ouvir.
No final, Filipe Gaspar, da organização, disse aos participantes que esta foi "a maior marcha de sempre" e que a iniciativa "é uma flecha contra o conservadorismo" do movimento independente que apoia Rui Moreira na presidência da Câmara do Porto, o "Porto, o Nosso Movimento".
À Lusa, Camila Florêncio, também da organização, fez um balanço a confirmar a perceção quanto ao número de participantes, até pelo tempo foi necessário para sair da Praça da República, mas aguardará pelos números da polícia.
"Tentaram-nos tirar do centro da cidade, tentaram-nos invisibilizar, e a gente ficou muito feliz, arrepiada, de ver as nossas comunidades em apoio e em protesto, e também pelo nosso lugar, porque a cidade é nossa também", disse a co-organizadora.
A Marcha do Orgulho do Porto, que aconteceu este ano pela 18.ª vez, é organizada por um conjunto de 21 coletivos e associações, e este ano ficou marcada por trocas de posições entre a organização e a Câmara do Porto devido à localização do seu término e respetivo formato.
Os organizadores chegaram a entregar uma petição contra a "invisibilidade" da marcha perante a sugestão da Câmara de fazer o arraial final no Parque do Covelo, tendo também sido sugeridas as Fontainhas, mas sem apoio municipal.
O presidente da autarquia, Rui Moreira, disse que o município "não é ouvido nem achado" quanto à realização da marcha, mas "questão diferente" era a do arraial, que apenas teria apoio logístico da Câmara se fosse no Covelo.
A organização acabou por optar por acabar a marcha na zona da Cordoaria, com uma festa.
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