Professores de todo o país manifestam-se hoje em Lisboa com uma lista de reivindicações que inclui a contagem do tempo de serviço que esteve congelado mais de seis anos, e garantem que “a luta vai continuar”.
“Os professores estão em luta nas escolas e na rua”, “não paramos” e a “luta vai continuar” são as palavras mais ouvidas esta tarde na Avenida da Liberdade, em Lisboa, onde milhares de professores de todo o país marcham em protesto.
Entre a lista de reivindicações estão a contagem do tempo de serviço correspondente a mais de seis anos, em que as progressões na carreira estiveram congeladas.
Para Conceição Viana, professora de Filosofia, em Oeiras, os motivos para participar na manifestação nacional convocada pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof) são vários, “mas os que têm prioridade têm a ver com a contagem do tempo de serviço”, as condições laborais e os critérios de recrutamento.
“Fundamentalmente, em termos pessoais, a questão da contagem do tempo de serviço, mas estou solidária com as questões que dizem respeito a professores com outra idade e noutra fase do percurso”, disse à Lusa.
Já para Álvaro Oliveira, professor de Português e Francês, no Monte da Caparica, em Almada, “a paragem obrigatória do 5.º e 7.º escalão não faz sentido nenhum”.
“Os professores têm tempo de serviço, fazem tudo, progridem e depois ficam pendurados nestes escalões. Além disso, o tempo de serviço que esteve sem contar, continua sem contar e a questão dos salários é uma coisa ridícula, porque o senhor ministro [da Educação] diz que há progressão salarial, mas eu desde de 2008 que ganho exatamente o mesmo, estamos em 2023, portanto é uma mentira pegada”, apontou.
Também Dina de Jesus, professora de Português em Vale de Cambra, disse que vem “a todas as manifestações, porque a situação não se altera”.
“Nós temos de manter a nossa posição, porque é importante para nós, para os nossos alunos, para os pais, para o país inteiro”, disse à Lusa, mostrando um cartaz com as palavras “democracia”, que considera estar em causa, e “respeito”, porque é o que não sente que falta por parte dos dirigentes políticos.
“Estou no sexto escalão, mas devia estar no sétimo quase no oitavo. Andamos aqui a marcar passo e descontámos os anos que estivemos congelados, o Estado arrecadou os nossos impostos e roubou-nos o tempo de serviço”, acusou Dina de Jesus, exigindo “uma vida digna” para os professores do país.
A manifestação nacional em Lisboa é convocada pela Federação Nacional de Professores (Fenprof), mas conta também com a participação da Federação Nacional de Educação (FNE) e outras sete organizações sindicais, bem como da Associação de Oficiais das Forças Armadas e de representantes da PSP.
O Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP), que ainda tem uma greve a decorrer nas escolas, não faz parte dos organizadores, mas já anunciou que vai estar presente.
As duas últimas grandes manifestações em Lisboa aconteceram em janeiro e foram organizadas pelo STOP, levando milhares de docentes para as ruas gritar por "Respeito" e "Melhores Condições de Trabalho".
No início do ano letivo, a tutela decidiu iniciar um processo negocial para rever o modelo de contratação e colocação de professores, mas algumas propostas deixaram os professores revoltados, como foi o caso da possibilidade de os diretores poderem escolher parte da sua equipa.
Desde então, as negociações entre sindicatos e ministério têm decorrido em ambiente de forte contestação, com os professores a realizarem greves e manifestações.
Fora da agenda negocial, estão reivindicações que os professores dizem que não vão abandonar, tais como a recuperação do tempo de serviço ou as progressões na carreira que os docentes.
A plataforma sindical que organizou o protesto de hoje prometeu que no final da manifestação serão apresentadas futuras ações de protesto.
Uma 'manif' como em 2008?
A Federação Nacional de Professores (Fenprof) espera hoje uma manifestação idêntica à de 2008, que, segundo os sindicatos, juntou cerca de 120 mil pessoas no Marquês do Pombal, em Lisboa.
Há 15 anos, um dos pontos de contestação era a avaliação dos professores e a ministra da Educação era Maria de Lurdes Rodrigues, o Governo era do PS e liderado pelo primeiro-ministro, José Sócrates.
Oriundos de todo o país, muitos professores envergaram camisetas pretas exigindo "Respeito" e apelando ao governo para os deixar trabalhar "sem burocracias".
"Desilusão", "desânimo", "revolta" e "falta de esperança no futuro" foram as palavras mais proferidas pelos docentes para descrever o atual ambiente vivido nos estabelecimentos de ensino.
No final da ‘manif’ de 2008 que, como a de hoje, percorreu as ruas de Lisboa, os professores aprovaram então uma greve nacional para 19 de janeiro de 2009 contra o modelo de avaliação de desempenho, que o Ministério da Educação rejeita suspender.
Na altura, os sindicatos afirmaram não haver “entendimento possível” com o Ministério, prometendo “luta o ano todo” contra o modelo de avaliação de desempenho proposto pelo Governo.
"Esta é maior do que a outra manifestação. Perante esta manifestação, que supera alguma já realizada em Portugal, será uma distorção democrática se o governo não retirar consequências e não suspender imediatamente o processo de avaliação de desempenho", disse Mário Nogueira, que já nessa altura era dirigente do Fenprof.
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