“Em defesa da escola pública. Por uma sociedade livre, democrática, justa e solidária. Será preciso uma revolução?” — lia-se numa faixa ilustrada com um cravo vermelho em alusão à revolução de Abril de 74. Junto à faixa, dezenas de professores com cravos na mão respondiam “Respeito” à pergunta “O que é que exigimos?” que vinha do palco.
A greve por distritos iniciada em 16 de janeiro termina hoje no Porto com a manifestação organizada por oito organizações sindicais, entre as quais a Federação Nacional de Professores (Fenprof).
Eduardo Ricardo, professor de 1.º Ciclo da Escola João de Deus (Porto) disse à Lusa que aderiu à manifestação por si, mas sobretudo pelos colegas mais novos.
“A profissão [de professor] é desvalorizada seguramente há mais de 20 anos. A desvalorização é crescente. E o que me choca, sobretudo, é a comparação entre a precariedade dos meus colegas mais novos e a estabilidade que eu tinha no início da minha carreira há mais de 40 anos”, disse Eduardo Ricardo.
Ana Saraiva, professora de biologia e geologia do Agrupamento de Escolas Rodrigues de Freitas (Porto) afirmou que “a profissão não é respeitada pelo Governo”.
“Sou daquele grupo dos 16% que estão no 10.º escalão, mas gostava que me contassem o tempo todo de serviço e descongelassem os seis anos que tive congelados”, disse.
Questionada sobre se tem ideia da perda de rendimento que os anos de congelamento de carreira já lhe causaram, Ana Saraiva usou uma expressão que ficou celebre em 1995 com o socialista António Guterres.
“Teria de subir para outro escalão mais cedo, 2/3 anos mais cedo. É só fazer a contas”, disse a professora, admitindo que não as fez porque “nem se atreve a descobrir o valor”.
Ambos estiveram do lado esquerdo da Avenida dos Aliados de frente para a Câmara Municipal do Porto junto a colegas com faixas onde se lê “Em luta contra a degradação da profissão docente”, “A lutar também estamos a ensinar” ou “Exigimos valorização e respeito pela carreira docente”.
De joelho pregado na calçada e ao lado de duas outras colegas que envergavam cachecóis com as cores de Portugal, Maria Augusta Queirós, professora do Agrupamento de Escolas Rodrigues de Freitas (Porto) disse que “não é só justiça que falta, há falta de respeito”. “Tenho 44 anos de serviço e tiraram-me tanto. O que eu já lutei”, adiantou.
A segurar um cartaz onde se lia “Basta!”, Maria Augusta Queirós desabafou sobre os “anos de serviço roubados” e queixou-se da “insensibilidade do Governo” que “só envia grelhas e grelhas e grelhas e esquece os direitos”.
Entretanto, ao som de apitos, tambores e gaitas de foles, do palco foram lançados números e percentagens.
“Agrupamento de Canelas [Vila Nova de Gaia] fechado. Fontes Pereira de Melo [Porto] fechada. Secundária de Rio Tinto [Gondomar] fechada. EB 2.3 de Paredes fechada. Amarante, Marco de Canaveses e Felgueiras estão [em greve] praticamente a 100%. E o que está aberto são serviços mínimos”, disse a oradora de serviço, enquanto a multidão respondia com aplausos e mais ruído.
No palco e na avenida foram-se sucedendo os discursos e entrevistas de dirigentes sindicais e políticos, entre os quais a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins.
“É irresponsável manter os salários tão baixos e esta enorme precariedade”, disse, a jornalistas, a líder bloquista, lembrando que “o corpo docente em Portugal está muito envelhecido e as novas gerações têm fugido de serem professores porque sabem que as condições são difíceis”.
O secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, que foi circulando entre os professores e estimulando o abanar de bandeiras, disse à Lusa que os professores só se calarão quando o Ministério da Educação “der resposta às reivindicações”.
“Esta determinação destes professores e a vontade de continuar a lutar são extraordinárias e isto não vai parar”, disse.
No sábado, professores e funcionários das escolas voltam a participar em mais uma manifestação nacional que se realizará em Lisboa.
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