Esta manhã, durante uma Conferência da CNN intitulada "Green is the new energy", duas estudantes do colectivo Greve Climática Estudantil atiraram ovos com tinta ao Ministro do Ambiente enquanto gritavam "sem futuro não há paz". Estavam ainda presentes os CEOs da EDP e da GALP, patrocinadores deste evento.

Veja aqui o momento do protesto.

Poucos minutos após o início da conferência, quando o ministro do Ambiente tomou a palavra, as três jovens dirigiram-se ao palco e atiraram tinta verde que atingiu Duarte Cordeiro na roupa, enquanto gritavam frases de contestação ao Governo.

"Não há paz"

"O Governo provou que não quer saber da transição climática ao fazer conferências com a EDP e a GALP", "Este vai ser o último inverno de gás", "Não permitimos que vendam o nosso futuro" e " A Galp e a EDP não querem saber da transição justa", foram algumas das frases que as jovens gritaram.

As ativistas foram, entretanto, retiradas da sala e a conferência foi interrompida para o ministro trocar de roupa e a sala ser limpa.

"Esta conferência é uma fachada para limpar a imagem das empresas que em Portugal estão a lucrar com as crises climática e de custo de vida", afirma Matilde Ventura, porta voz desta ação, em comunicado. "O Ministro provou com a sua presença que prefere compactuar com os criminosos que nos estão a levar para o colapso do que garantir que nós, jovens que nascemos em crise climática, temos um futuro".

Esta ação vem no seguimento do bloqueio do conselho de ministros, em que os estudantes declararam que "não há paz até ao último inverno de gás", prometendo não dar paz ao governo até que se comprometa a que este inverno seja o último em que é usado gás metano para produzir eletricidade. Isto para atingir "eletricidade 100% renovável e acessível até 2025 e o fim aos combustíveis fósseis até 2030".

"O Ministro diz que respeita as nossas ações, mas se ele nos respeitasse cumpria aquilo que a ciência dita como necessário", comenta Matilde, "se respeitasse os jovens não tentava limpar a imagem das empresas que estão a condenar o nosso futuro". Afirma ainda que "Conhecemos as propostas deste ministro, estão todas longe do necessário".

Os estudantes prometem continuar a "não dar paz ao governo", e vão voltar com uma onda de ações "pelo fim ao fóssil" a partir de 13 de Novembro, com ocupações nas escolas e "perturbação do normal funcionamento das instituições".

Recorde-se que no passado dia 14 de setembro foram detidos 17 ativistas por bloquearem o acesso ao Conselho de Ministros, em Algés, município de Oeiras.

À data Beatriz Xavier, porta-voz do coletivo Greve Climática Estudantil, disse que "daqui para a frente, com o aumento da crise climática os nossos protestos também vão ter de aumentar de escala porque os nossos governos não nos estão a ouvir e estão a continuar a sua vida e os seus conselhos de ministros", concluiu.

“Pelo menos acertaram na cor"

Já de regresso à conferência, com uma camisa branca, Duarte Cordeiro disse que "a intolerância não faz as outras pessoas estarem mais despertas para os nossos argumentos, nem pode ser utilizada para calar os outros e, muito menos, intimidar quem exerce funções públicas num governo que pretende acelerar a transição energética, ou alguém com uma posição diferente da minha. A intolerância não nos leva a lado nenhum", reiterou.

"É preciso saber distinguir estes manifestantes, que adotam estes comportamentos, dos jovens manifestantes que querem fazer ouvir a sua voz e pressionar governos e empresas a acelerar a transição, que estão preocupados com o seu futuro. E eu tenho um enorme respeito por toda essa geração de manifestantes", destacou.

Aligeirando o ambiente, o ministro disse que "ao menos acertaram na cor, que é verde".

Fazendo referência à manifestação do passado dia 14 de setembro, Duarte Cordeiro disse que a sua posição é de "compreensão" para com as preocupações destes jovens.

"Eu não me queixo de quem vai para a rua reivindicar pelo seu planeta e pelo seu futuro, [...] eu queixo-me de determinadas formas de manifestação que são intolerantes e têm como objetivo procurar, através da intolerância, calar os outros", afirmou o ministro do Ambiente, sublinhando que o Governo considera que se deve "envolver as empresas no processo da transição [energética]".

"Não desistimos de melhorar e de perceber como podemos alcançar essa ambição" climática, reiterou o ministro.

*Com Lusa