Augusto Santos Silva afirmou que foi um “consenso a que se chegou muito facilmente”, nomeadamente no “total apoio ao processo político desenvolvido pelo senhor [Ghassan] Salame, enquanto representante especial do secretário-geral das Nações Unidas”.
“Total apoio à tentativa europeia (o Processo de Berlim) de apoiar a organização de uma conferência (na capital alemã) entre as partes e a revisitação das condições em que uma operação semelhante ou conexa com a Operação Sofia (missão naval da UE na região para resgate de migrantes, entretanto descontinuada) poderia contribuir para elevar os níveis de segurança marítima no Mediterrâneo e fazer cumprir o embargo (de armas) internacionalmente decretado”, descreveu ainda.
Em relação a uma eventual retoma das atividades navais por parte da UE, Santos Silva frisou que não se registou “um consenso sobre isso”.
“Mas, evidentemente, olhamos para as nossas responsabilidades no que diz respeito à proteção de vidas, mas também à obrigação do cumprimento das regras internacionais e resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Sempre que olhamos para a evolução da situação na Líbia, perguntamo-nos se devemos ou não retomar essa operação ou desse tipo, mas nenhuma decisão foi tomada”, disse.
Santos Silva referiu que “a Líbia está a ser um santuário para combatentes estrangeiros, designadamente do Daesh [designação em árabe do grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico] e várias redes terroristas”, salientando também a situação de “entre 700 a 800 mil pessoas a trabalhar na Líbia em situação irregular” como fator de risco.
O chefe da diplomacia portuguesa sublinhou ainda “as ameaças da crise na Líbia para países vizinhos, alguns deles parceiros muito importantes para Portugal, como a Tunísia, Argélia ou Egito”.
Também em conferência de imprensa, o Alto Representante da UE para a Política Externa, o espanhol Josep Borrell alertou que, na Líbia, “os recentes acontecimentos mostraram que a situação pode sair completamente do controlo” e “é necessário agir rapidamente e passar da retórica à ação antes que seja tarde demais”.
“Há vários riscos, que estão a aumentar, a começar pelo risco terrorista, dado estarem a ser detetados cada vez mais combatentes vindos da Síria e do Sudão”, afirmou o chefe da diplomacia europeia, avisando também sobre os fluxos migratórios e o risco de desestabilização em toda a região.
Atualmente, a Líbia tem dois governos, um no leste (ligado ao marechal Khalifa Haftar) e outro no oeste no país (do primeiro-ministro Fayez Sarraj).
O governo do leste é apoiado pelos Emirados Árabes Unidos e pelo Egito, além de França e Rússia. O governo localizado no oeste do país, nomeadamente em Tripoli, recebe apoio da Turquia, Qatar e Itália.
O governo de Sarraj tem enfrentado uma ofensiva das forças leais ao marechal Khalifa Haftar e estes combates ameaçam mergulhar a Líbia no caos, temendo-se que o conflito chegue aos níveis de 2011, quando o ditador Muammar Kadhafi foi derrotado e morto.
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