“Estou muito apreensivo”, disse hoje, em entrevista à agência Lusa, o presidente do município, Rui André (PSD), referindo que irá reunir-se esta semana com entidades responsáveis na matéria para se tentar encontrar uma resposta rápida com medidas de estabilização de emergência.

Segundo o autarca, em 2016 arderam cerca de dois mil hectares e foi feita uma candidatura no valor de 600 mil euros: “Não foi recusada, mas foi feito um corte de 87%. Até agora, ainda não recebemos qualquer ajuda”, afirmou.

Face à dimensão do incêndio que deflagrou em 03 de agosto e que consumiu — segundo a autarquia – cerca de 16.700 hectares no concelho, a Câmara de Monchique espera agora um apoio “à volta dos cinco a seis milhões” de euros para este tipo de intervenção.

“Estamos no verão, mas as primeiras chuvas terão um efeito nefasto, se até lá não fizermos nada. Quer nas linhas de água, quer nas zonas de taludes temos de fazer um trabalho muito exaustivo”, vincou Rui André.

Para o autarca, caso nada seja feito, o impacto da erosão dos solos e deslizamentos de terra “será tão ou mais nefasto” do que o próprio incêndio.

“Se tivermos o azar de termos chuvas muito fortes, irão retirar o coberto da terra e irá provocar uma erosão muito grande dos solos e algumas zonas poderão ficar praticamente desérticas”, alertou.

O presidente da Câmara de Monchique voltou a defender a necessidade de as autarquias terem competências na área da gestão florestal, tal como o já tinha feito aquando do incêndio de 2016.

“Num território no qual somos administradores, não temos qualquer responsabilidade em muitas áreas. A área da floresta tem sido a minha pedra de toque, ao longo dos últimos anos”, referiu.

Nesse sentido, defendeu que as câmaras deveriam ter uma palavra a dizer na gestão e no ordenamento florestal do concelho, por forma a poder “monitorizar este território”.

Para Rui André, o município não pode ter apenas a capacidade de dar pareceres – que “até há pouco nem eram vinculativos” – e tem de assumir um papel mais interventivo.

O incêndio rural, combatido por mais de mil operacionais e considerado dominado na sexta-feira (dia 10) de manhã, deflagrou no dia 03 à tarde, em Monchique, distrito de Faro, e atingiu também o concelho vizinho de Silves, depois de ter afetado, com menor impacto, os municípios de Portimão (no mesmo distrito) e de Odemira (distrito de Beja).

Quarenta e uma pessoas ficaram feridas, uma das quais com gravidade (uma idosa que se mantém internada em Lisboa).

[João Gaspar e Marco Lopes da Silva (texto), da agência Lusa]