Carlos Areal, que pertence ao Conselho Geral e de Supervisão eleito pela lista C (de oposição à lista A, de Tomás Correia), disse à Lusa que na reunião magna “há um conjunto de associados que vai apelar ao chumbo das contas” e de eventuais votos de confiança que surjam a Tomás Correia.

Este conselheiro considera que chumbar as contas servirá para mostrar as fragilidades que têm, mas também que não se pode aceitar que estejam assinadas "por uma pessoa que foi condenada com a terceira maior multa alguma vez aplicada pelo Banco de Portugal a pessoas individuais”.

Em 21 de fevereiro foi conhecida a multa de 1,25 milhões euros do Banco de Portugal a Tomás Correia, presidente da Associação Mutualista Montepio Geral, por irregularidades quando era presidente do Banco Montepio.

Também António Godinho, líder da lista C nas eleições de dezembro, disse que “não existem quaisquer condições para Tomás Correia e esta administração permanecerem na gestão da Associação Mutualista”, seja pela multa do Banco Portugal, seja por serem “os rostos da rede de interesses que se tem movimentado no Montepio, em particular na última década, e que suscita a desconfiança do país".

Sobre as contas individuais da mutualista (lucro de 1,63 milhões de euros em 2018, valor que compara com 587,5 milhões em 2017, quando a mutualista beneficiou de elevados créditos fiscais), disse que mostram que continuam a degradar-se, além de que seriam de prejuízos se não tivesse havido 11,6 milhões de euros de créditos fiscais.

Afirmou ainda que mostram que prossegue a “crise reputacional” do Montepio, visível nos 41 mil associados que saíram em 2018, não compensados pelos 29 mil que entraram, “o número mais baixo dos últimos 25 anos”.

Também Eugénio Rosa, no comunicado que divulgou esta semana no seu 'site', disse que conhece “os elevados créditos ruinosos para Caixa Económica, sem qualquer análise de risco” que a administração de Tomás Correia concedeu, uma vez que fez o levantamento da “forma como eles foram dados e as consequências desastrosas que tiveram e ainda têm”, com elevadas imparidades, nos quase cinco anos que esteve no Conselho Geral e de Supervisão, referindo ainda que “o Banco de Portugal também conhece bem tudo isso porque foi devida e atempadamente informado”.

Segundo Eugénio Rosa, apenas entre 2012 e 2018, “a Caixa Económica teve de abater ao seu ativo 1.681 milhões de euros de créditos por se terem considerados totalmente perdidos, a esmagadora maioria herdados da administração de Tomás Correia”.

Eugénio Rosa afirma ainda que na assembleia-geral do Banco Montepio de 16 de março de 2018 Tomás Correia (enquanto único representante da Associação Mutualista Montepio, acionista do banco) aprovou uma "proposta, feita por ele, de que os membros dos órgãos demitidos só receberiam as remunerações até ao fim do mandato, a que por lei tinham direito, se assinassem um compromisso escrito de que não dariam qualquer informação às autoridades, sem antes informarem o Montepio, e de terem informado o que iam dizer, podendo o Montepio (ele) contestar que fossem dadas essas informações às autoridades”.

Eugénio Rosa afirmou que se recusou assinar, tendo como consequência não ter sido pago.

Ribeiro Mendes, que já foi administrador da mutualista na equipa de Tomás Correia, mas nas últimas eleições encabelou a lista B, não quis fazer comentários.

A assembleia-geral de hoje, além da aprovação de contas e aplicação de resultados, servirá ainda para eleger os membros que comporão a comissão que ficará responsável por fazer a alteração de estatutos da Associação Mutualista Montepio, em linha com o novo Código das Associações Mutualistas, o que tem de ficar pronto até setembro.

A administração da mutualista deverá apresentar uma proposta dos elementos a integrar essa comissão. Poderá ainda algum associado apresentar uma proposta.

A Associação Mutualista Montepio Geral, com mais de 600 mil associados, é o topo do grupo Montepio e tem como principal empresa subsidiária a Caixa Económica Montepio Geral, que desenvolve o negócio bancário.

A assembleia-geral decorrerá no Auditório Prof. Armando Simões dos Santos, na Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa, pelas 20:00.