O fundador da Plataforma para o Crescimento Sustentável e antigo vice-presidente do PSD falava na primeira de um ciclo de conferências, sob o lema Alternativa Sustentável, hoje dedicada ao tema “Proteger a saúde, combater as desigualdades e enfrentar a crise demográfica”.
“Estamos a viver um contexto único: a maior crise dos últimos anos, uma policrise, com a pandemia, a guerra e a inflação”, apontou, considerando que este cenário é agravado pelo “imobilismo a que se assiste em Portugal no debate das políticas públicas”.
“Não bastava que o contexto internacional fosse tão exigente, como estamos num contexto de superficialidade, passa culpas, um verdadeiro sonambulismo no meio da maior crise de várias gerações”, lamentou, considerando que a plataforma que fundou em 2011 tinha de avançar com este projeto.
No final de quase três horas de conferência e debate, e questionado sobre qual o objetivo final do trabalho desta plataforma, o ex-candidato à liderança do PSD nas anteriores diretas em maio do ano passado respondeu, com ironia, que “deveria estar a fazer uma travessia no deserto”.
“Porque decidimos reorganizar-nos? Porque estamos numa situação limite, a um milímetro de não reconhecermos no sistema político”, disse, alertando que “outros países já passaram por isso e um dia acordaram e viviam num país que já não reconheciam” e com forças radicais no poder.
“Se isso aconteceu noutros sítios, pode acontecer em Portugal”, alertou Moreira da Silva, que tem defendido, em várias ocasiões, que o PSD deveria ser claro em recusar quaisquer entendimentos futuros com o partido Chega.
Sobre o resultado do trabalho desta plataforma, Moreira da Silva quis desligá-lo de qualquer conotação partidária.
“Queremos oferecer ao país, seja aos órgãos de soberania, seja aos partidos, um roteiro, um menu de politicas públicas que poderão ou não adotar. Somos um movimento de reflexão sobre politicas públicas e vamos fazer o nosso papel: pensar como Portugal pode estar no topo de uma série de indicadores no espaço de uma década”, explicou.
Numa das áreas hoje em debate, a segurança social, Moreira da Silva defendeu que se “as pensões a pagamento e os direitos constituídos são sagrados, tão sagradas são as garantias das próximas gerações terem direito à sua pensão”, alertando que, se nada for feito, quem se reformar a partir de 2040 terá uma pensão 50% inferior ao salário.
Entre as propostas enunciadas pela plataforma, o antigo dirigente do PSD destacou “a articulação entre o sistema fiscal e da segurança social”.
“Não pode deixar de haver ponderação de que as receitas fiscais, de IRC, nomeadamente de empresas com mais rendimentos com menos fator trabalho, possam servir para financiar o sistema de segurança social. É altura de fazermos este tipo de discussão, não podemos pressupor que vai haver uma dívida para várias gerações”, defendeu.
Entre os oradores, além de Moreira da Silva, estiveram hoje o ex-ministro da Economia Augusto Mateus, o professor universitário e antigo coordenador do Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD para a área do trabalho e da segurança social Jorge Bravo, a doutorada em Sociologia da Família Dália Costa ou o médico e ex-secretário de Estado Adjunto da Saúde (e ministro do setor no curto XX Governo Constitucional liderado por Passos Coelho) Fernando Leal da Costa.
Na plateia de poucas dezenas de pessoas, quase não estiveram figuras do PSD, à exceção do deputado António Proa e dos antigos parlamentares Eduardo Teixeira e Nilza Sena.
As conferências terão um caráter mensal, espalhadas pelo país, e cada uma estará assente num documento de trabalho aberto a contributos, dando origem no final a um relatório global.
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