A fadista esteve à frente da casa de fados desde 1950 até princípios deste século, tendo-se tornado “uma referência gastronómica e do fado tradicional, por onde passaram algumas das melhores vozes como Celeste Rodrigues, Lina Maria Alves, Lucília do Carmo, António Mourão, Maria da Fé, entre outros ”, disse Paulo Valentim.
Argentina Santos, que popularizou fados como “A Minha Pronúncia” e “Chico da Mouraria” e “Chafariz d’el Rei”, encontrava-se atualmente a residir na Casa do Artista em Lisboa.
A carreira de Argentina Santos e a história da Parreirinha, que começou por ser uma taberna onde acontecia fado, confundem-se.
Em 2010, Museu do Fado escreveu que, ao confinar grande parte do seu percurso à Parreirinha de Alfama, Argentina Santos “fez também da sua casa uma autêntica oficina de fados, cenário de afetos e palco da cumplicidade criativa de poetas, músicos e fadistas”.
Entre outros, pela Parreirinha de Alfama passaram as vozes de Berta Cardoso, Alfredo Marceneiro, Fernanda Maria, Mariana Silva, Natércia da Conceição, Natalina Bizarro, Helena Tavares, Leonor Santos, Beatriz da Conceição, Flora Pereira e Júlio Peres. Em 2003, na 52.ª Grande Noite de Fado, a Parreirinha de Alfama recebeu o Prémio Casa de Fado da Casa de Imprensa.
Referindo-se à criadora de “Chico da Mouraria”, o Museu do Fado assevera: “o seu fado tem a força de um pregão e a contenção de uma prece. Neles se combinam autenticidade humana e artística em perfeita simbiose. Destemido, o fado de Argentina Santos não conhece subterfúgios ou cedências. Basta-lhe ser autêntico”.
Argentina Santos cantou além fronteiras, nomeadamente no Festival de Edimburgo, Londres, Paris, Madrid, e em várias cidades de Itália, tendo sido homenageada com uma Academia De Fado oatwntewndo o seu nome em Ascona.
O estilo interpretativo de Argentina Santos caracterizava-se “por uma expressividade intensa” que construía “através da ornamentação, da acentuação, da introdução de suspensões longas nas palavras-chave que [preenchia] com melismas cantados em pianíssimo, sobretudo no registo agudo”, lê-se na “Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX” (2010).
A fadista foi homenageada no espetáculo “Gosto da Parreirinha”, que foi a sua despedida oficial dos palcos, levado à cena no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Uma carreira no fado "por mero acaso"
Nascida a 06 de fevereiro de 1924 no bairro lisboeta da Mouraria, foi na vizinha Alfama que Maria Argentina Pinto dos Santos, de seu nome completo, fez vida e carreira, nomeadamente à frente da casa de fados Parreirinha de Alfama, onde uma vez, na década de 1950, numa tertúlia, lhe pediram para cantar e entrou numa desgarrada "por mero acaso", como contou numa entrevista à agência Lusa.
A Parreirinha de Alfama, onde Argentina Santos era cozinheira, oficialmente, não apresentava fados, mas aconteciam tertúlias, nomeadamente com a participação do fadista Filipe Pinto, e certa vez uns jornalistas fizeram referência aos bons petiscos que ali se serviam e ao fado se cantava.
Esta referência obrigou a fadista a tornar a Parreirinha, que servia refeições aos fragateiros [homens que trabalhavam nas fragatas], um espaço de fado, que inaugurou com o fadista Alberto Costa (1898-1987).
Apesar de vários discos gravados, de ter protagonizado o espetáculo “Cabelo Branco é Saudade” (2005), de Ricardo Pais, com o qual atuou em vários palcos europeus, e de ter participado no Festival de Edimburgo, numa das entrevistas à Lusa a fadista afirmou que gostava mais de cozinhar do que cantar.
O investigador de fado Luís de Castro, que foi cliente "mais de 50 anos d'A Parreirinha", e amigo da fadista, realçou à Lusa a "excelente gastronomia portuguesa à qual ela dava sempre um toque especial".
Ao seu nome ficam associados fados como “Chico da Mouraria”, “A Minha Pronúncia”, “As Duas Santas”, “Juras”, “Chafariz d’El Rei”, “Lisboa, Casta Princesa”, “Passeio Fadista”, “Praga”, "História de Uma Velhinha", “Coração Não Batas Tanto” ou “As Minhas Horas”.
Uma exposição realizada no Museu do Fado, em fevereiro de 2010, tomou como título "Argentina Santos - Não sei se Canto se Rezo".
Na ocasião, Carlos do Carmo, amigo de longa data da fadista, afirmou à Lusa: "Há um contraste no canto da Argentina Santos entre o pregão e a reza. Em dois, três versos existe um pregão que só é de Lisboa, e depois, em absoluto contraste logo a seguir, existe um recolhimento, uma contenção, que parece uma reza".
Luís de Castro afirmou, por seu turno, que o cantar de Argentina Santos era "um autêntico pregão de Lisboa", e realçou "os característicos pianinhos" como "uma mais-valia sua, suspensões em que, em vez de elevar a voz, baixa o tom mantendo a melodia e causando uma atmosfera emocional única".
A mãe de Carlos do Carmo, Lucília do Carmo, foi uma das muitas fadistas que atuou na Parreirinha de Alfama, assim como Berta Cardoso, Celeste Rodrigues, Alfredo Marceneiro, Mariana Silva, Lina Maria Alves e Beatriz da Conceição.
Luís de Castro, fazendo notar o seu empenho empresarial, confidenciou: "a Argentina nunca tinha apenas um artista vedeta no seu elenco, mas sempre dois ou três, além dela própria".
O estudioso de fado recordou ainda que a Parreirinha "foi uma rampa de lançamento de muitos artistas", e citou os nomes de António Mourão, Fernanda Maria, Maria da Fé e Maria Armanda.
"Além da grande fadista de referência, é uma enorme mulher que triunfou sem pisar ninguém", sublinhou por seu turno Carlos do Carmo.
Até à década de 1990, a fadista circunscreveu as suas atuações, essencialmente, à sua casa de fados, “embora fosse a muitas matinés fadistas no Café Luso”, referiu Luís de Castro.
A sua estreia discográfica data de 1958, através do editor Manuel Simões (1917-2008), da etiqueta Estoril, o seu primeiro álbum saiu em 1978, “Chafariz d’El Rei” (Riso & Ritmo), o último álbum foi editado em 2002 pela CNM, de Nuno Rodrigues. Em 2009 participou no álbum de Filipa Cardoso, com quem gravou “Fado da Herança”, e nesse ano, Argentina Santos sofreu um acidente vascular cerebral, o que a levou a afastar-se dos palcos.
O Museu do Fado escreveu que, ao confinar grande parte do seu percurso à Parreirinha de Alfama, Argentina Santos “fez também da sua casa uma autêntica oficina de fados, cenário de afetos e palco da cumplicidade criativa de poetas, músicos e fadistas”.
Em 1994 pela mão do encenador Ricardo Pais com o espetáculo “Raízes e Paixões” começou a pisar outros palcos, como o do Teatro Nacional S. João, no Porto, Queen Elizabeth Hall, em Londres, ou o da Cité de la Musique, em Paris. Com Ricardo Pais, voltou a participar no espetáculo encenado de fado, “Cabelo Branco é Saudade” (2005).
Em 1995, Argentina Santos, com o fadista Carlos Zel (1950-2002) e o guitarrista Pedro Caldeira Cabral, participou no Festival de Edimburgo.
Em termos internacionais, Argentina Santos cantou no Brasil, em S. Luís do Maranhão, em 1995, a convite do músico Pedro Caldeira Cabral, e em S. Paulo, em 1999, na Casa de Portugal, com Carlos do Carmo, deslocou-se também à Grécia, França, Holanda, Reino Unido, Espanha e Itália, onde foi tornada patrona da Academia do Fado em Racanati, e foi homenageada em Ascona.
A criadora de “Vida Vivida” recebeu, em 2005, o Prémio Amália Carreira, e a sua casa de fados, nesse mesmo ano, foi distinguida com o troféu para Casas de Fado/Casa da Imprensa entregue na Grande Noite do Fado de Lisboa, no Teatro S. Luiz, onde no dia 02 de julho de 2010, numa homenagem recebeu a Medalha de Ouro da cidade de Lisboa.
O Museu do Fado homenageou a fadista em novembro de 1999, tendo na altura recebido uma medalha de louvor da Câmara de Lisboa, e a Associação Portuguesa dos Amigos do Fado distinguiu-a com um diploma de Sócia de Mérito.
Em 2013 a fadista foi condecorada pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com a comenda da Ordem do Infante.
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