"Neste domingo o Brasil perdeu um de seus grandes escritores", escreve a imprensa brasileira, recordando títulos de António Bivar, que o 'site' G1 da Globo define como "clássicos do teatro nacional", como "Cordélia Brasil", de 1967, a sua peça de estreia, e "Abre a Janela e Deixa Entrar o Ar Puro e o Sol da Manhã", que lhe garantiu o Prémio Molière, no ano seguinte.
Antonio Bivar Battistetti Lima, nascido em Ribeirão Preto, estado de São Paulo, em 1939, faz parte do grupo de jovens dramaturgos, da chamada “geração de 1969”, surgido no final da década de 1960, que opôs o absurdo, ao realismo tradicional, inspirado nos movimentos 'contra-cultura' da época.
"Dramaturgo, biógrafo, jornalista, contista, romancista, tradutor, ator, guionista, cronista, diretor e produtor musical", como o define a Enciclopédia Itaú Cultural, António Bivar frequentou a Fundação Brasileira de Teatro e o Conservatório Nacional, onde se formou como ator, mas de onde saiu feito dramaturgo, em vésperas de estrear a primeira peça, "Cordélia Brasil".
A ditadura militar (1964-1985) afastou-o do país. Fixou-se no Reino Unido, em 1970, mas continuou a escrever para os palcos do seu país, peças como "Longe Daqui, Aqui Mesmo" e "Alzira Power", a única obra do escritor até hoje representada em Portugal, por iniciativa da coreógrafa Águeda Sena (1927-2019), no âmbito do trabalho de pesquisa que levou a cabo na década de 1980, com a Associação Cultural Teatro Espaço, centrado num ciclo de farsas brasileiras, contemporâneas.
Os títulos de Bivar estendem-se ao ensaio, em obras como "O que é punk?", sobre o movimento que viu emergir no Reino Unido, à biografia, em títulos como "Yolanda", à análise literária, como "Bivar na Corte de Bloomsbury", sobre a obra da escritora britânica Virginia Woolf, e às memórias ou relatos de viagens, como em "Verdes Vales do Fim do Mundo", de caráter autobiográfico.
Produziu espetáculos de Maria Bethânia e de Rita Lee, criou a comédia "Gente Fina é Outra Coisa", com Alcyr Costa, escreveu "Quarteto", em homenagem ao encenador polaco Zbigniew Ziembinski, e foi um dos organizadores do festival O Começo do Fim do Mundo, marco do movimento punk no Brasil.
A biografia do dramaturgo no 'site' do Instituto Itaú destaca as opções formais assumidas por Bivar, inspiradas nas dramaturgias-chave do teatro moderno, de August Strindberg (1849-1912) a Samuel Beckett (1906- 1989), passando por do francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), Eugène Ionesco (1909-1994) e Edward Albee (1928-2016).
Dramas curtos, muitas vezes num único cenário, poucas personagens, centradas em poucos conflitos, muitas vezes marcadas pelo humor e pela estética 'pop' marcam a intensidade da obra de Bivar, de acordo com o perfil disponível na Enciclopédia Itaú Cultural 'online'.
“Gostaria de ser lembrado pelos meus livros", disse Bivar, numa entrevista recente hoje citada pela imprensa brasileira, “porque não falo só de mim. Falo das pessoas, do convívio com elas, dos lugares, dos costumes. (...) Meu prazer é falar sobre esses encontros e colocar um pouco de humor, mostrar o lado engraçado da vida. O humor, o absurdo, as situações… Gosto disso, e gostaria de ser lembrado por isso".
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