O funeral do cartoonista sai hoje, pelas 16:30, da igreja de S. João de Deus, em Lisboa, onde é celebrada missa de corpo presente às 16:00, para o cemitério dos Olivais, informou a funerária.

“O Zé Manel foi um grande artista, da geração de [Augusto] Cid e de outros, mas tão discreto na vida como na morte”, disse Dinis de Abreu à Lusa, aludindo à sua carreira de quase 60 anos, no mercado editorial português.

Zé Manel, de seu nome de registo José Manuel Domingues Alves Mendes, nasceu em Lisboa a 22 de janeiro de 1944, era filho do ilustrador António Alves Mendes, 'Méco’.

O 'desenhador’ Zé Manuel, “como gostava de ser tratado”, recordou Dinis de Abreu, estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, "da qual falava sempre com um agudo sentido de pertença".

Zé Manel é autor de “uma obra multifacetada, repartida por uma invulgar galeria de cartoons políticos, publicados, sobretudo, no Diário de Notícias, que chegaram, a ser expostos no Palácio Galveias, numa mostra comemorativa dos 120.º aniversário do jornal", disse Dinis de Abreu, recordando igualmente "inúmeros trabalhos de ilustração infantojuvenil e de banda desenhada", áreas que sempre o seduziram.

Entre as muitas obras para a infância por si ilustradas, destaca-se a edição original de "O Soldado João", uma história anti belicista de Luísa Ducla Soares, que, em 1973, inaugurou a coleção Cor Infantil da Editorial Estúdios Cor, então dirigida por José Saramago.

A história, com o seu apelo à paz, concebida originalmente para o suplemento infantil do Diário Popular, onde fora proibida pela censura.

O artista plástico “dedicou-se igualmente ao desenho satírico” e trabalhou na ilustração de livros escolares, tendo sido ainda autor de vários vitrais em diversas igrejas nacionais, onde deu "largas ao seu talento criativo e a uma componente mística que o acompanhava”.

As revistas Século Ilustrado, Rádio & Televisão, o jornal O Emigrante, as publicações humorísticas Os Ridículos, Bomba H, A Chucha e O Cágado, os livros “Manual da Má-Língua” e “Os Salazarentos”, assim como os quatro álbuns das “Histórias do Renato, Um Menino muito Chato”, destacam-se no percurso de Zé Manel, iniciado aos 17 anos, na Parada da Paródia, segundo o Clube Português de Imprensa.

Além do Diário de Notícias, Zé Manel trabalhou também para O País, semanário para o qual concebeu uma série de caricaturas de políticos portugueses. Desenhou ainda para discos e revistas do “Fungagá da Bicharada” e para publicações como O Brincalhão, Pisca-Pisca e Pão com Manteiga, revista que acompanhou o antigo programa humorístico da Rádio Comercial.

“Macau a tinta-da-China” é apontado por Dinis Abreu como “um dos mais importantes livros-álbum que [Zé Manel] deu à estampa, resultado de uma divagação por aquele antigo território sob administração portuguesa”.

Zé Manel participou em várias exposições, individuais e coletivas, “embora avesso a vender os seus trabalhos, que gostava de cativar para si ou de partilhar com família e amigos”.

Em 2014, foi feita uma retrospetiva da sua obra, “Eros uma vez… O Humorista Zé Manel”, no Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, na Amadora, que deu origem à publicação de uma coletânea do seu trabalho.

Entre os mais recentes trabalhos de Zé Manel contam-se as ilustrações para os livros de António Gomes de Almeida “Como era antes de haver”, adotado pelo Plano Nacional de Leitura, “Os Maias – Uma Análise ilustrada”, além de um álbum dedicado a Manuel da Fonseca, o escritor de "Seara de Vento".

O Clube Português de Imprensa destaca o Museu Sammlung, de cartoon e caricatura, de Basileia, na Suíça, entre as coleções em que Zé Manel se encontra representado.

Em 2011, recebeu o Prémio de Honra do festival Amadora BD.

Apesar de “reservado”, como recordou Dinis de Abreu, Zé Manel fazia parte, “com gosto”, de tertúlias, “onde pontificavam artistas e intelectuais, mas sem nunca lhe apetecer o palco e as luzes, nem ceder à tentação do deslumbramento, mesmo no auge da sua brilhante carreira”.

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