Segundo o filho, Frederico Corado, Lauro António sofreu "um ataque cardíaco fulminante" hoje de manhã em casa, em Lisboa.

Não há ainda informações sobre cerimónias fúnebres.

Com uma longa e diversificada ligação ao cinema, Lauro António foi espectador, crítico, programador, diretor de festival, professor, cineclubista, argumentista e realizador, tendo também encenado para teatro.

Foi autor de cerca de 50 livros relacionados com cinema e mais de uma dezena de obras cinematográficas, sendo as mais reconhecidas "Manhã Submersa" (1980) e "O Vestido Cor de Fogo" (1985), adaptações literárias de Vergílio Ferreira e José Régio, respetivamente.

Nascido em Lisboa, a 18 de agosto de 1942, Lauro António de Carvalho Torres Corado passou a infância e parte da adolescência em Portalegre, que terá sido decisiva na forma como se aproximou da escrita e da cultura, em particular do teatro e do cinema.

De regresso a Lisboa, em 1958, formou-se em História e ainda nos tempos de faculdade, na década de 1960, começou por ser crítico de cinema nos jornais República e Diário de Lisboa, na revista Plateia, que estenderia depois à revista Opção, ao Diário de Notícias, a A Capital e ao semanário Se7e, entre outras publicações. Foi membro do Cine-Clube Universitário de Lisboa e dirigente do ABC Cine-Clube.

Depois de ter experimentado a realização durante o serviço militar, Lauro António fez o primeiro filme profissional em 1975, quando rodou a 'curta' documental "Vamos ao Nimas", sobre os cinemas de Lisboa.

O caminho atrás das câmaras fez-se anos depois com a adaptação do romance "Manhã Submersa" (1980), de Virgílio Ferreira, possivelmente o mais conhecido filme da carreira de Lauro António como realizador.

No "Dicionário de Cinema Português", Jorge Leitão Ramos escreve que, com "Manhã Submersa", Lauro António tornou-se "um nome seguro da geração dos anos 70", mas as obras seguintes, como a série "Histórias de mulheres" e "Vestido cor de fogo", não tiveram tanta visibilidade.

A intensa atividade em torno do cinema fê-lo programar para várias salas de cinema, colaborar com a RTP e a RDP, publicar ensaios, dirigir festivais de cinema em Portalegre, Seia, Viana do Castelo e em Famalicão, e lecionar, consecutivamente, em cursos sobre cinema.

Nos anos 1990, estreou-se como encenador, com a peça "Encenação", no Teatro de Animação de Setúbal, mas ficou mais conhecido sobretudo pelo programa televisivo "Lauro António apresenta", título que recuperou para um blogue que atualizava com regularidade com crítica sobre cinema.

É autor de livros em torno do cinema, como "Cinema e Censura em Portugal" e "O Cinema entre Nós".

Em 2018, Lauro António recebeu o Prémio Carreira do Fantasporto, foi distinguido pela Academia Portuguesa de Cinema com um prémio Sophia de carreira e condecorado pelo Presidente da República com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique.

No início de 2021, foi criada em Setúbal a Casa das Imagens, uma biblioteca e mediateca cuja conclusão apenas foi possível com a doação por parte de Lauro António de 50 mil livros, filmes, fotografias, cartazes, documentos e objetos relacionados com cinema e imagem. Este foi apenas uma parte do acervo pessoal que o cineasta quis disponibilizar para consulta pública, para que não se dispersasse ou caísse no esquecimento.

De resto, foi Lauro António o encarregado de dirigir a Casa das Imagens — inaugurada em maio de 2021 — e a dinamizar uma programação com ciclos de cinema e publicação de livros - o primeiro dos quais sobre o filme negro norte-americano -, debates e criação de um arquivo de entrevistas de vida de figuras ligadas a esta arte.