“A prova do fracasso da COP é que só à 25.ª hora, já depois do tempo regulamentar, é que foi possível chegar a um acordo que é o mínimo dos mínimos e que usa a expressão ‘transição para fora dos combustíveis fósseis’ para evitar a expressão que se esperava e que é defendida pela ONU que é eliminação gradual dos combustíveis fósseis”, condenou Mariana Mortágua, numa conferência de imprensa na sede do BE, em Lisboa.

Sublinhando que a COP28 “não chegou a um acordo para a eliminação dos combustíveis fósseis”, a líder do BE avisou que, mesmo que este acordo seja cumprido, o que nunca aconteceu até hoje, o mundo está perante um “aquecimento que é o dobro daquele previsto nas metas do acordo de Paris”.

“Esta COP pode ter superado o seu impasse, mas ela o que conseguiu foi um acordo de alçapões e os alçapões não nos vão proteger das alterações climáticas”, alertou.

Mariana Mortágua deixou claro que “havia muito poucas ilusões” em relação a um conferência que foi organizada nos Emirados Árabes Unidos, um país “cuja fortuna provém da exploração de petróleo” e cujo presidente lidera também “uma empresa que explora petróleo”, referindo ainda que nos corredores da COP circularam “2.500 lobistas da área do petróleo e dos combustíveis fósseis”.

“Da mesma forma que o mundo não se pode satisfazer com um acordo que está abaixo dos mínimos e que mesmo se for cumprido não consegue cumprir as metas do acordo de Paris, Portugal também não se pode contentar com a evolução que tem feito ao nível das energias renováveis. Há muito por fazer em Portugal”, apontou.

Em termos nacionais, a bloquista referiu que a lei de bases do clima, aprovada em 2021, ainda não foi regulamentada, para além do território, a agricultura e a gestão dos recursos hídricos não estarem adaptados “à seca extrema que Portugal já está a viver”.

A permissão de “crimes ambientais como os `resorts´ de luxo” e o “consumo espúrio e supérfluo de bens de luxo que são responsáveis pela poluição como por exemplo os jatos privados” são outras das críticas de Mortágua, que apontou ainda o dedo à indústria poluidora que se mantém em Portugal.

Os países reunidos na cimeira do clima aprovaram hoje “por consenso” uma decisão que apela a uma “transição” no sentido de abandonar os combustíveis fósseis, anunciou o presidente da COP28, no Dubai.

Na abertura da sessão plenária de encerramento, os delegados adotaram a decisão preparada pelos Emirados Árabes Unidos, que foi aplaudida.

Trata-se de uma “decisão histórica para acelerar a ação climática”, afirmou Sultan Al Jaber, presidente da conferência da ONU.

Em reação a este acordo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou entretanto que este reconhece, “pela primeira vez”, a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis.