A descoberta, feita numa experiência com ratinhos, perspetiva tratamentos mais eficazes para a doença de Parkinson, uma patologia neurodegenerativa que afeta a coordenação motora e que tem como um dos problemas a dificuldade de iniciação do movimento e a lentidão do movimento.
Rui Costa, coordenador da equipa científica, e Joaquim Alves da Silva, ambos neurocientistas do Centro Champalimaud, em Lisboa, e da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, analisaram em ratinhos saudáveis a atividade dos neurónios (células cerebrais) que produzem dopamina antes da iniciação do movimento.
Verificaram, depois de colocarem elétrodos nos roedores, que a atividade dos neurónios dopaminérgicos, os que libertam dopamina, "está relacionada com o quão rápido e vigoroso vai ser o movimento", disse à Lusa Rui Costa, assinalando que a atividade neuronal é menor para movimentos mais lentos e é maior para movimentos mais rápidos.
Posteriormente, recorrendo à técnica da optogenética, que permite estudar 'in vivo' o comportamento dos neurónios usando 'laser' e proteínas 'marcadoras', os investigadores conseguiram 'silenciar' ou 'ativar' as células implicadas na produção de dopamina.
Rui Costa, Joaquim Alves da Silva e outros cientistas observaram que se consegue 'calar' o pico de atividade destas células mesmo antes da iniciação do movimento e ativá-lo quando os ratinhos estão parados.
A equipa constatou, por outro lado, que a inibição ou a ativação da atividade dos neurónios dopaminérgicos, que funciona como gatilho para os movimentos voluntários se iniciarem, não funcionou quando os animais já estavam em movimento.
O comportamento das células cerebrais foi testado nos ratinhos em ações espontâneas - os roedores podiam estar quietos ou andar quando quisessem - e em ações de estímulo-recompensa - os animais tinham de carregar numa alavanca para acederem a açúcar.
Em ambas as situações, foi registado um pico de atividade nos neurónios que produzem dopamina antes da iniciação do movimento, de acordo com Rui Costa.
Num próximo passo da investigação, os cientistas pretendem aferir de que forma os resultados obtidos podem "tentar melhorar os tratamentos" da doença de Parkinson, "associando-os à vontade de iniciar o movimento".
Além disso, propõem-se estudar com mais detalhe estas células, uma vez que, na experiência, nem todos os neurónios que produzem dopamina ficaram ativos antes da iniciação do movimento, apenas 30 a 40 por cento, nas contas de Rui Costa.
"Achamos que são um subtipo específico [de neurónios dopaminérgicos] especialmente vulnerável para morrer com a doença de Parkinson", admitiu.
Atualmente, para aliviar os sintomas da doença, embora podendo causar efeitos adversos como movimentos involuntários, o paciente é sujeito a doses contínuas de dopamina ou a estimulação cerebral profunda, independentemente de manifestar ou não vontade de se mexer ou quando está a meio da execução de um movimento.
Como alternativa terapêutica, os investigadores sugerem a administração de dopamina ou a estimulação elétrica do cérebro apenas no momento em que o doente tenciona iniciar um movimento corporal.
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