Globalmente, as mulheres representam hoje 40% do total de empreendedores do mundo, mas “ainda assim têm 30% menos hipóteses de acesso a financiamento face aos homens”, conclui um estudo, que foi realizado num universo de 468 empresas e 9.000 líderes em 37 países de todo o mundo.

Elaborado pela consultora norte-americana Oliver Wyman para analisar a representação das mulheres nas empresas do setor financeiro, o relatório “Women in Financial Services” conclui que é no setor dos pagamentos que existem mais mulheres nos Conselhos Executivos (34%, em empresas como a Visa, Amex, Mastercard e Paypal), enquanto o setor da gestão de ativos lidera a lista de mais mulheres com lugar em Conselhos de Administração.

A liderar o ‘ranking’ surge Israel, com 38% de mulheres a ocupar lugar nos Conselhos Executivos de empresas do setor financeiro, seguindo-se a Austrália, a Suécia e a Finlândia. No fundo da tabela estão a China, o Japão e a Coreia do Sul.

“O setor financeiro tem sofrido uma transformação e é cada vez maior o número de mulheres a assumir cargos em Conselhos Executivos e de Administração”, lê-se no relatório da Oliver Wyman, segundo o qual a distribuição por sexos em posições de liderança está, contudo, “longe de ser igualitária”, persistindo grandes desigualdades de género no acesso a esses cargos.

A média global de mulheres nos Conselhos Executivos do setor fixou-se nos 20% este ano, uma subida de quatro pontos percentuais face à percentagem registada em 2016.

Portugal surge um ponto percentual abaixo desta média, nos 19%, apesar de ter progredido a um ritmo mais acelerado, ao registar um aumento de cinco pontos percentuais nos últimos três anos.

“Os números de 2019, apesar de positivos, revelam-se ainda insuficientes para que haja igualdade de oportunidades e de resultados, uma vez que muitos dos cargos ocupados por mulheres em Conselhos Executivos são ainda em áreas funcionais”, conclui o relatório, revelando que, “globalmente, apenas 6% das mulheres em Conselhos Executivos ocupam o lugar cimeiro de uma organização com o cargo de presidente executivo”.

Ainda assim, as mulheres assumem a liderança em posições cimeiras dentro das empresas nos departamentos de recursos humanos, com 58% de representação.

“O nosso estudo permite também observar que há uma maior criatividade e um maior empenho na procura de talento, no recrutamento e na retenção de mulheres nas empresas. Isto significa que o tempo e o compromisso para com esta questão da igualdade estão a dar frutos”, sublinha o ‘partner’ da Oliver Wyman em Portugal, Rodrigo Pinto Ribeiro, citado num comunicado.

A consultora norte-americana conclui ainda que “os acionistas exercem um importante papel enquanto agentes de mudança, através da votação formal de temas relevantes para a representatividade das mulheres e, em alguns casos, através do diálogo direto com as direções”.

“É um poder que pode e deve ser utilizado para se avançar em matéria de diversidade. E isso já acontece”, sustenta Rodrigo Pinto Ribeiro.

No estudo, a Oliver Wyman analisou também o papel da mulher enquanto cliente dos serviços financeiros, tendo constatado que, “apesar de serem cada vez mais influentes enquanto compradoras deste tipo de serviços, é-lhes dedicada menor atenção”.

“Resultado: todos os anos desperdiçam-se oportunidades de receita de cerca 638,7 mil milhões de euros, um valor que ultrapassa a receita anual das instituições financeiras maiores do mundo e que é apenas uma amostra das oportunidades disponíveis, que continuam a crescer à medida que as mulheres controlam cada vez mais a riqueza, o poder de compra e as decisões financeiras”, refere.

Atualmente, as mulheres controlam dois terços do consumo das famílias e são responsáveis por 40% da riqueza global, representando já 40% do total de empreendedores do mundo, mas tendo “30% menos hipóteses de acesso a financiamento para os seus negócios, comparativamente aos homens”.

Globalmente, 12% das mulheres ocupam o cargo de CFO [responsável financeiro] de grandes empresas e 34% ocupam a mesma posição em pequenas e médias empresas.

Apesar destes números, refere o estudo, “menos de 50% manifesta insatisfação face ao equilíbrio de género”.