Mais de 200 locais de cerimónia pré-colombianos, principalmente colinas e montanhas, onde os indígenas acreditam que os seus deuses vivem, foram definidos pelo vice-Ministério de Descolonização e câmaras municipais, como pontos de encontros de cidadãos para ritos religiosos desde a madrugada de hoje, assinalando um dia que é feriado nacional na Bolívia. O presidente Morales, que é aimará (nome de um povo estabelecido desde a era pré-colombiana) recebeu o ano novo na residência presidencial, no bairro de San Jorge de La Paz, onde as 7H18 locais surgiram os primeiros raios de sol.

"Este 21 de junho marca o solstício de inverno (no hemisfério sul) e inicia um novo ciclo de percurso do sol", o 'Tata inti' (Pai sol) e do ano agrícola, disse o governante, acompanhado pelo chanceler David Choquehuanca, também aimará, e outras autoridades.

O cálculo do ano 5524 é feito a partir da soma dos cinco ciclos (cada um de mil anos) de história social dos povos originários, segundo cronistas indígenas, até ao início da conquista espanhola da América em 1492, mais os 524 anos que passaram desde então.

Morales aproveitou o acto para criticar o calendário gregoriano usado em quase todo o mundo, que qualificou como sendo "muito desordenado", pois tem meses de 31, 30, 29 (em anos bissextos) e 28 dias. Já os povos originários estabeleceram calendários de 13 meses com 28 dias, que somam um total de 364 dias, mais um dia "zero" que é justamente 21 de junho, afirmou.

"É por isso que projetamos a recuperação dos calendários ancestrais como parte do processo de reconstituição de nossa identidade e de recuperação da nossa força", apontou.

O calendário gregoriano, introduzido pelo papa Gregório XIII em 1582, substituiu o calendário juliano, instituído por Júlio César no ano 46 antes de Cristo. Os rituais de celebração do ano novo indígena ganharam força na Bolívia desde a chegada de Morales ao poder em 2006.