No final dos anos 70, Albert Costa passou 10 dias em coma após um ataque cardíaco. Quando acordou, uma coisa era clara: ia vender a coleção de livros da sua vida, conta o The Guardian.
Com formação em engenharia e antropologia, Albert passou muitos anos a viajar por África e pelo Pacífico, adquirindo artefactos dignos de museus — e muitos livros. Por isso, de olhos postos no futuro, pensou que as obras que foi juntando não poderiam terminar numa feira, já que "ninguém sabe o valor" dos livros, que acabam a ser vendidos "por um euro".
Agora com 83 anos, tem a sua livraria em Barcelona, a Espíritus del Agua. Mas com uma particularidade: não vende as obras pelo seu valor de mercado, mas a um preço que considera justo. Na sua colecção privada há obras sobre antropologia, arte, filosofia e viagens, bem como ficção.
"Muitas pessoas têm esta ideia de que os livros em segunda mão não têm valor, mas acredito que um livro em segunda mão deveria ser apenas um pouco mais barato do que um livro novo — e por vezes muito mais caro. Eu tento chegar a um preço algures no meio", explica.
Mas esta é uma questão delicada, conta Albert. "Se as pessoas protestam, eu digo que quando se compra um carro em segunda mão não se sabe se ele foi bem cuidado e mantido. Mas num livro pode ver-se que está tudo aí, os pensamentos do autor, a empresa que o imprimiu".
"Vendo livros, mas é um negócio que mal paga as despesas gerais", diz. "Gosto porque é uma nova carreira. Em vez de os vender a todos a uma biblioteca, gosto que as pessoas venham e olhem e depois podemos chegar a um acordo".
Contudo, esta ideia tem também as suas contrariedades. Afinal, são os livros de uma vida e a separação é difícil. Mas o propósito mantém-se: "eu sei que não posso deixar o meu filho com 10.000 livros em casa", refere. "Claro, dói vendê-los, mas é uma obrigação dolorosa".
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