A descoberta foi feita pelo Stratospheric Observatory for Infrared Astronomy (SOFIA), um avião Boeing 747 modificado que carrega consigo um telescópio refletor de 2,7 metros e indicia que a água pode estar distribuída por toda a superfície lunar, e não apenas limitada a lugares frios e às escuras.
De acordo com o comunicado da NASA, o SOFIA foi capaz de detetar moléculas de água na Cratera Clavius, localizada no hemisfério sul da Lua e uma das maiores crateras visíveis a partir do nosso planeta. A agência espacial indica que observações prévias da Lua já tinha sugerido alguma forma de hidrogénio na sua superfície, mas que era impossível distinguir se era água ou o seu parente químico próximo, o hidroxilo, também formado pela junção de hidrogénio e oxigénio.
"Temos indicações de que a familiar água que nós conhecemos, a H2O [fórmula química da água, composta por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio], está presente no lado da Lua iluminado pelo Sol", afirmou, citado no comunicado, o diretor da Divisão de Astrofísica na NASA, Paul Hertz.
No entanto, os resultados desta investigação, publicados na revista Nature Astronomy, apontam para a presença de água em concentrações de 100 a 412 partes por milhão, o que equivale a uma garrafa de água de perto de 33 cl, por metro cúbico presa debaixo do solo lunar. Por comparação, o deserto do Sara terá cem vezes mais água do que o solo lunar, de acordo com as novas observações feitas.
Estes valores, sendo muito baixos para os padrões terrestres — o deserto do Sahara, por comparação, tem 100 vezes mais a quantidade de água detetada pelo SOFIA —, mas a sua mera presença numa zona da Lua que não o seu lado oculto, levanta questões sobre como é que a água é criada e como persiste numa superfície como a lunar e numa atmosfera sem ar, condições nas quais deveria supostamente dispersar-se pelo espaço.
Para além disso, o facto de existir água na Lua abre novas possibilidades ao programa Artemis da NASA, projeto onde se planeia criar uma base com presença humana no astro até 2024. As moléculas da água não só podem ser transformadas em água potável, como o seu hidrogénio e oxigénio podem ser usados para combustível e o oxigénio pode ser usado para ser respirado pelos astronautas.
Resta também saber de que forma é possível extrair estas moléculas do solo, podendo ter-se dissolvido no "vidro" lunar criado depois dos embates dos meteoritos na sua superfície ou se existe em pequenos cristais espalhados entre os grãos do solo, sendo assim mais fácil de extrair, refere o The Guardian. Para além disso, há que aferir se estas quantidades de água apenas existem em meros micrómetros ou milímetros da superfície, ou se a sua presença existe a níveis mais profundos.
Um dado, porém, parece já ter sido esclarecido: há muito por onde explorar. De acordo com outro estudo publicado na Nature Astronomy, estas áreas onde existem as moléculas de água podem ser bem mais numerosas do que o esperado. Segundo os cálculos dos investigadores da Universidade do Colorado, utilizando imagens do Orbitador de Reconhecimento Lunar, existem pelo menos 40 mil quilómetros quadrados de solo lunar capaz de reter água.
Os Estados Unidos querem regressar com astronautas à superfície da Lua em 2024 e estabelecer missões sustentadas no satélite natural da Terra a partir de 2028, tendo na mira chegar a Marte.
Sem água, os astronautas não conseguem sobreviver na Lua.
Se a água detetada pelo observatório SOFIA - um telescópio a bordo de um avião Boeing adaptado para o efeito - está facilmente ao alcance para uso numa missão espacial não se sabe ainda.
Já se sabia que a Lua tinha gelo nos seus polos e que um deles, o sul, é apontando como a região de alunagem da próxima missão humana, a Ártemis, em 2024.
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