
“Não ligo a isso”, limita-se a dizer, com um sorriso, quando a agência Lusa o confronta com o seu vigente ‘recorde’ de maior número de dias de prova sem abandonos.
De acordo com o ciclista luso da Movistar, o segredo para não desistir há 213 jornadas na estrada, mais concretamente desde 9 de abril de 2022 e da sexta etapa da Volta ao País Basco, é não ter azar, embora conceda que a força de vontade também desempenha um papel importante.
“Há situações em que claro que nos apetece desistir, mas nós sabemos que podemos chegar à meta e, então, chegamos. E, depois, lá está, é não ter azar e não ter um percalço que te faça abandonar forçadamente”, acrescentou, reconhecendo que a experiência ajuda neste registo, numa altura em que o pelotão está cada vez mais rápido e mais tenso.
Quase a completar 36 anos, o sétimo classificado do contrarrelógio dos Jogos Olímpicos Paris2024 — posição que também tinha alcançado no Rio2016 — e maior especialista português na luta contra o cronómetro, como atestam os quatro títulos nacionais de elite que conquistou (2011, 2014-2016), Oliveira é também o luso com mais presenças em grandes Voltas.
‘Nelsinho’ tem 21 ‘grandes’ no currículo — são oito presenças no Tour, 10 na Vuelta e três no Giro — e prepara-se para somar outras duas nesta temporada, já que planeia estar na Volta a França e na Volta a Espanha.
“Não sei, ainda falta, não sei. Tudo depende daqui para a frente como é que a minha vida vai”, respondeu ao ser confrontado pela Lusa com a possibilidade de chegar às três dezenas de grandes Voltas.
O que Oliveira sabe é que nunca sonhou alcançar este registo. “Quando começamos a pedalar, ir a uma Volta à França já era um sonho, digamos, agora fazer oito ou sete, quantas é que eu já fiz? É outra coisa”, admitiu.
Após 16 temporadas no estrangeiro, 15 das quais no WorldTour, Oliveira ainda passa despercebido no foco mediático, mas isso não o incomoda.
“Eu sempre gostei de estar no meu canto, não ter tantos holofotes virados a mim. Então, dou-me bem com isso e não preciso que ninguém me reconheça. O meu reconhecimento está aqui dentro”, assegurou.
No entanto, quando se trata de reconhecer outros, o ciclista de Vilarinho do Bairro (Anadia) entusiasma-se, defendendo que as medalhas conquistadas em Paris2024, onde Rui Oliveira e Iúri Leitão se sagraram campeões olímpicos de madison, com o segundo a ser também vice-campeão no omnium, e agora nos Europeus de pista faziam falta ao ciclismo nacional.
“Quando começaram a investir na pista, ninguém, se calhar, provavelmente, sonhava com isto. Mas, como podem ver, é um trabalho que não é de um dia para o outro. Demorou muitos anos para ter um resultado bom”, vincou.
Oliveira insistiu que os resultados são fruto de “um trabalho a longo prazo e o problema de muitas pessoas é que pensam que isto é de um dia para o outro, e não é”, considerando que fazem falta, “muitas das vezes”, investimentos a longo e não tão a curto prazo.
Apesar do sucesso na pista ser, atualmente, mais visível, devido às medalhas, o corredor da Movistar acredita que também na estrada há uma geração que inspirará os mais jovens, como outros o inspiraram a si.
“Tanto o [Sérgio] Paulinho, como o José Azevedo, também nos deram a nós, quando eu era pequenito, uma motivação para continuar. Porque intuitivamente pensávamos que podíamos chegar onde chegámos, onde estamos. E agora os jovens, se calhar, pensam o mesmo de nós”, disse.
Hoje, são, por exemplo, João Almeida e António Morgado, ambos da UAE Emirates e ambos presentes hoje na Clássica da Figueira, prova portuguesa do circuito UCI ProSeries, a motivar os jovens a andar de bicicleta e a fazer com que o ciclismo luso cresça lá fora.
Por isso, Oliveira não tem dúvidas de que quando se reformar, a representação portuguesa no pelotão internacional ficará bem entregue. “E acho que vêm outros, certamente”, reforçou.
* Ana Marques Gonçalves, da agência Lusa *
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