A celebrar 18 anos de existência, tendo já acumulado 86 galardões, nacionais e estrangeiros, este 65.º número “reflete sobre a atualidade e o imaginário: o que mantemos dentro do nosso território afetivo, geográfico, social, e o que nos atrevemos a conhecer do território do Outro”, explicou Patrícia Reis.

O diretor da revista, Mário Assis Ferreira, assina o editorial, intitulado “Fronteiras - Os Muros do Medo”, no qual refere que “uma nova ordem mundial” emergiu, em 1945, “das cinzas da II Guerra Mundial, conferindo às potências vencedoras o poder e a discricionariedade de encaixilhar o mundo – designadamente o Médio e Extremo Oriente – em cubículos geoestratégicos”.

“Assim nasceram novos conceitos de fronteiras: as traçadas com régua e esquadro, não raro à revelia dos povos que a elas ficaram circunscritos – e de outros que lhes eram exógenos…”, escreve Assis Ferreira.

Sobre a Europa, Mário Assis Ferreira sublinha que “União é pseudónimo, face à crise migratória como se, subitamente, as suas fronteiras se houvessem radicalizado: ou são membranas porosas ao trânsito migratório, ou são muros inacessíveis aos valores da dignidade humana”.

“No seu seio, coexistem países como Itália, Hungria, República Checa, Polónia, onde já não habitam cidadãos do mundo: ou são nacionais autóctones, ou imigrantes proscritos que a todo o custo importa repelir. Quer sejam os que migram para fugir, quer os que migram para buscar…”.

“Nessa deriva idiossincrática, são países esquecidos de que a migração não é o transbordamento de uma população que sobra, mas a fuga de uma população que sofre; indiferentes aos farrapos de sobrevivência dos que transpõem o Mediterrâneo e que se mudam de céu, não mudam de dignidade humana; alheios à destrinça entre refugiados políticos e aos que apenas fogem de condições sub-humanas em que a morte se avizinha”, prossegue o diretor da Egoísta, publicação do grupo Estoril-Sol.

“Tudo isso é indiferente aos surtos populistas, às demagogias extremistas, aos ‘pseudonacionalismos’ que proliferam na Europa! São pregões arrebatadores sobre o risco da infiltração de terroristas, sobre a usurpação de empregos, sobre o perigo do multiculturalismo, sobre a perda de identidade étnica, sobre a miscigenação dos valores nacionais…”, escreve Assis Ferreira, lamentando que a xenofobia se vai "alastrando, conquistando votos”, o que “não deixará de ter consequências, muito próximas, no xadrez político europeu”, alerta.

Angelina Jolie, Augusto Brázio, Marta Chaves, Maria Manuel Viana, Jaime Rocha, Maria do Rosário Pedreira, Luísa Costa Gomes, Bárbara Assis Pacheco são alguns dos colaboradores deste número da revista.