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Segundo o analista político e ex-embaixador do Chile em Portugal Fernando Ayala, citado pela agência Lusa, "desde 1990, quando se restaurou a democracia no Chile, todos os presidentes foram de centro-esquerda ou de centro-direita, contrários a Pinochet, incluindo o Presidente Sebastián Piñera. Agora, se um dos três candidatos da direita ganhar, teremos um presidente pinochetista. Será a primeira vez na nossa história".

No centro do debate está Jeannette Jara, candidata comunista apoiada por uma coligação de centro-esquerda, que se confronta com três candidatos da direita e extrema-direita, todos abertamente favoráveis ao legado de Pinochet. Ao contrário da postura tradicional de alguns políticos de direita, que apenas defendiam a escola neoliberal do ditador, estes candidatos assumem o legado completo, incluindo a chamada "mão-dura" no combate ao crime e a disposição para rever limites dos direitos humanos.

O candidato de extrema-direita José António Kast, segundo nas intenções de voto, afirmou que, se Pinochet estivesse vivo, votaria nele. O seu concorrente Johannes Kaiser, tecnicamente empatado com Kast, declarou que, se o país estivesse nas mesmas condições políticas de há 52 anos, apoiaria um novo golpe de Estado.

A candidata Evelyn Matthei, filha de Fernando Matthei, membro da junta militar de Pinochet, defende que o golpe era inevitável para que o Chile não se tornasse Cuba e considera inevitáveis os crimes cometidos nos dois primeiros anos da ditadura. Os três candidatos descendentes de alemães afirmam que pretendem libertar militares condenados por crimes de lesa-humanidade durante o regime militar.

Para Fernando Ayala, "diferentemente de todos os demais países onde os ditadores morreram no poder, fugiram ou foram presos, Pinochet manteve-se como comandante do Exército e senador vitalício. Essa anomalia nunca se resolveu porque a sua Constituição continua vigente e quando tivemos a chance de enterrá-la definitivamente, falhamos".

As tensões refletem-se na percepção pública: um estudo da consultora Cadem de setembro indica que Pinochet é a segunda figura histórica mais admirada pelos chilenos, com 10% das intenções de voto, enquanto Salvador Allende ocupa o terceiro lugar, com 8%.

Segundo Ayala, "o motivo pelo qual os chilenos estão a reviver os símbolos da ditadura é a situação da criminalidade no país e a demanda social por segurança através da mão-dura, uma bandeira política na qual a extrema-direita subiu". A cientista política Claudia Heiss reforça a análise, afirmando que "estas eleições têm uma estética e uma retórica que reivindica a figura de Pinochet".

Heiss sublinha ainda que "existem elementos da guerra fria presentes nos debates atuais. A direita fala do cancro marxista e defende o estado mínimo e certas ideias programáticas, colocando a esquerda como irresponsável. Além disso, está muito viva a eclosão social de 2019, quando jovens foram às ruas numa épica parecida ao enfrentamento entre a Unidade Popular (de Salvador Allende) e o golpe de Estado (de Pinochet) com o uso da violência".

O fantasma de Pinochet continua a pairar sobre o Chile, reflexo da Constituição neoliberal de 1980 e das tensões sociais recentes. Como alerta Fernando Ayala, "enquanto não mudarmos essa Constituição, o fantasma de Pinochet vai continuar pelas ruas do Chile".

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