Nascida em Évora e criada no Fogueteiro, concelho do Seixal, para onde foi viver com os pais quando tinha quatro anos, Olga Mariano, 71 anos, é das mulheres ciganas mais conhecidas. Ativista pelos direitos da comunidade cigana, fundou e dirigiu várias associações, sendo atualmente presidente da Letras Nómadas – Associação de Investigação e Dinamização das Comunidades Ciganas.

Em declarações à agência Lusa, Olga Mariano admite que para si seria “maravilhoso” se o Dia Nacional das Comunidades Ciganas, que hoje se assinala, fosse comemorado como acontece com o Dia de Portugal, por exemplo, que no Parlamento falassem da data ou que o Governo desse “uma deixa sobre o dia”.

Gostava que este dia fosse importante para todos, mas vê isso como “um sonho, uma utopia”: “Da forma como estamos a viver estes dias isso é muito difícil”.

“Já tenho 71 anos e nunca me senti tão discriminada, tão ilegal dentro do meu país, onde nasci e nasceram todos os meus antepassados desde há 500 anos, como agora”, admite, salientando que “qualquer comunidade” a discrimina por ser cigana.

“Não vou por nomes de territórios nem de nações porque não vale a pena, mas sentem-se mais donos de Portugal, ou pensam que são mais parte integrante do que nós e muitas vezes até nos mandam para a nossa terra quando a nossa terra é esta e a deles é que não é. Isto só para ver o que se está a passar hoje em Portugal que nunca na minha vida eu tinha assistido”, contou.

Lembrou, a propósito, um episódio que se passou com o pai – “ainda no tempo do Estado Novo e não em democracia como hoje” – em que uma pessoa de fora da localidade onde viviam foi à procura dele e o identificou como cigano, e em que as pessoas disseram desconhecer e só associaram ao “Ti Domingos” quando o descreveram fisicamente.

Uma realidade muito diferente do que se passa hoje, em que Olga Mariano assume viver “muito assustada”, porque apesar de ter crescido no Fogueteiro e de, como diz, o Fogueteiro ter crescido com ela, sente-se “completamente fora do contexto”.

“Eu tenho medo de sair pela forma como me olham em locais de comércio no próprio Fogueteiro. Isto realmente é difícil, muito difícil”, relata, apontando como causa os movimentos de extrema-direita que proliferam por toda a Europa e ganham terreno em Portugal.

Ainda assim, afirma que nunca foi pessimista, mas antes realista e que vê o que está a acontecer, o que a leva a desejar que “essa extrema-direita que se quer levantar que morra à nascença”.

Defende uma luta sem armas, com palavras e ações, e, mesmo admitindo que se trata de uma frase feita, gostava que a máxima vigente fosse “um por todos e todos por um”.

“Nós somos todos cidadãos de pleno direito, não somos cidadãos de segunda, somos portugueses. Há muita boa gente cigana que faz os seus descontos como todos os outros, portanto nós somos cidadãos portugueses ciganos e não ciganos portugueses, primeiro do que tudo a nossa bandeira é portuguesa”, afirmou, admitindo que é para si “uma grande tristeza” que isto não aconteça.