“Estamos a testemunhar o pior desastre natural na Europa em um século e ainda estamos a tomar conhecimento da sua magnitude”, afirmou o responsável da OMS, durante uma conferência de imprensa virtual para apresentar as necessidades urgentes de saúde e de resposta na Turquia e na Síria, a que a agência Lusa assistiu.

Os dois países foram atingidos, na madrugada do dia 6 de fevereiro, por um terramoto de magnitude 7,8 na escala de Richter, a que se seguiram várias réplicas, uma das quais de magnitude 7,5.

“O verdadeiro custo [dos sismos] ainda não é conhecido, mas a recuperação vai levar tempo e precisará de um esforço fenomenal”, sublinhou Hans Kluge.

Segundo avançou, a OMS contabiliza atualmente mais de 31 mil mortos e 100 mil feridos na Turquia e quase 5 mil mortos na Síria, números que Hans Kluge assegurou que “vão aumentar” rapidamente.

Na segunda-feira, um outro responsável da agência das Nações Unidas, o diretor do Departamento Regional de Emergências da OMS, Rick Brennan, já apontava para um número provisório de vítimas mortais superior: 40.943.

Na conferência de imprensa realizada hoje Hans Kluge acrescentou que há cerca de 26 milhões de pessoas em ambos os países a precisar de ajuda humanitária e, segundo as autoridades turcas, “quase um milhão perdeu as respetivas casas e vive em abrigos temporários”.

A estes números, a agência das Nações Unidas junta ainda as cerca de 80.000 pessoas que estão em hospitais e que “colocam uma enorme pressão sobre todo o sistema de saúde, já muito danificado pelo desastre”.

Perante tal situação, o diretor regional da OMS lançou hoje um apelo à comunidade internacional para angariar 43 milhões de dólares (cerca de 40 milhões de euros) para apoiar a resposta aos terramotos na Turquia e na Síria.

“Este é o momento para a comunidade internacional mostrar a mesma generosidade que a Turquia tem mostrado a todas as nações do mundo ao longo dos anos. O país abriga a maior população de refugiados do mundo, entre os quais 4,2 milhões de pessoas da vizinha Síria, muitas das quais perderam tudo”, sublinhou Hans Kluge, adiantando que a OMS já canalizou 16 milhões de dólares (14,8 milhões de euros) do seu fundo para emergências.

Lembrando os “resgates milagrosos” a que também se tem assistido, o diretor regional da OMS pediu “a todas as partes, tanto aos governos como à sociedade civil, para trabalharem juntas e para garantirem o acesso transfronteiriço de ajuda humanitária entre a Turquia e a Síria, e dentro da própria Síria”.

O Governo turco recusou hoje abrir as suas fronteiras em áreas controladas pelos curdos na Síria e exigiu à ONU que toda a ajuda humanitária para a Síria passe pelas zonas sob controlo turco.

Hans Kluge também admitiu que a organização está preocupada com as consequências do desastre no futuro próximo.

A prioridade imediata é “apoiar os muitos hospitais e instalações médicas que foram danificados e trabalhar para enfrentar o alto número de doentes com traumas e ferimentos catastróficos”, mas há outros desafios a surgirem, afirmou o representante.

“Pouco mais de uma semana depois da terrível tragédia, também há preocupações crescentes com problemas de saúde emergentes relacionados com o frio, a [falta de cuidados de] higiene e saneamento e com a propagação de infeções, sobretudo entre as pessoas mais vulneráveis”, disse, defendendo a necessidade urgente de uma estratégia para aumentar a cobertura vacinal destas populações.