Inquirido como testemunha, o juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal disse ser amigo do arguido há 27 anos e ainda hoje acredita que aquilo que o que o ex-procurador lhe contou sobre a saída do Ministério Público (MP) e a possibilidade de ir trabalhar para o setor privado era verdade.
“Não tenho a menor dúvida que ele estava a falar verdade”, disse o magistrado, explicando que, na altura dos factos (2011/2012), Orlando Figueira estava com problemas familiares e financeiros.
Segundo a testemunha, na altura em que Orlando Figueira falou na possibilidade de ir trabalhar para o setor privado, para uma empresa do “espetro de Carlos José da Silva [presidente do Conselho de Administração do Banco Millennium Atlântico],” o tentou demover.
“Não te metas nisso, tens mais de 20 anos de carreira, não é boa ideia”, contou o juiz, ressalvando estar convicto de que o seu amigo jamais iria trabalhar com algo que tocasse os processos-crime nos quais trabalhou como procurador.
Contudo, o ex-procurador contra-argumentou dizendo que estava com problemas no casamento e financeiros e que nada o prendia a Portugal.
Carlos Alexandre garantiu em tribunal que nunca se falou em Manuel Vicente [ex-vice-Presidente de Angola e ex-administrador da Sonangol], apenas na Sonangol, ou em empresas do universo do petrolífera angolana.
A testemunha contou também que o arguido lhe tinha dito que iria ter com o advogado Daniel Proença de Carvalho para tratar do diferendo sobre o contrato promessa que assinou para ir trabalhar para Angola.
Para Carlos Alexandre, o arguido é uma pessoa “confiável, leal, correto, credível e trabalhador e acreditou piamente que ia trabalhar para Angola porque gostavam do trabalho dele, das palestras que fez”.
“Nunca encontrei nos processos dele um traço que me coloque em causa este raciocínio”, sustentou
A Operação Fizz assenta na acusação de que Manuel Vicente corrompeu Orlando Figueira, com o pagamento de 760 mil euros, para que este arquivasse dois inquéritos, um deles o caso da empresa Portmill, relacionado com a aquisição de um imóvel de luxo no Estoril em 2008.
Após a separação da matéria criminal que envolve o ex-vice-Presidente angolano, o processo tem como arguidos Orlando Figueira, o empresário Armindo Pires e o advogado Paulo Blanco.
O ex-procurador do DCIAP está pronunciado por corrupção passiva, branqueamento de capitais, violação de segredo de justiça e falsificação de documentos, o advogado Paulo Blanco por corrupção ativa em coautoria, branqueamento também em coautoria, violação de segredo de justiça e falsificação de documento em coautoria.
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