As eleições presidenciais do Brasil estão marcadas para o próximo mês de outubro e a luta resume-se, claramente, a dois candidatos: Jair Bolsonaro e Lula da Silva. As sondagens apontam, para já, para um eventual regresso do petista à liderança, por 'troca' com Bolsonaro. No entanto, se o sufrágio fosse daqui a dez anos, as coisas poderiam ser bem diferentes, ou mais equilibradas.

Passemos a explicar. Atualmente, Lula, de 76 anos, mantém 47% das intenções de voto para a eleição de 2 de outubro, contra 32% do atual presidente, segundo uma nova consulta do Datafolha. Ainda de acordo com este instituto, Jair Bolsonaro, 67, tem vindo a ganhar pontos nas últimas semanas dentro dos dois principais grupos religiosos no Brasil, tendo passado, desde maio, de 39 para 49% entre os evangélicos, ao passo que Lula desceu quatro pontos, de 36 para 32%. A margem seria ainda maior num segundo turno (no Brasil se um dos candidatos não tiver a maioria absoluta, haverá uma segunda volta apenas com os dois mais votados), Lula ficaria com 37% dos votos e Bolsonaro 54%.

Dentro dos católicos, Lula da Silva recolhe a grande maioria dos votos, 47%, ainda que também tenha perdido um ponto nos últimos três meses. Bolsonaro corre atrás, neste grupo, mas a verdade é que, tal como nos evangélicos, o presidente brasileiro tem vindo a subir nas intenções de voto, passando de 27 para 32% desde maio passado.

E se olharmos a outras sondagens, concretamente do PoderData, a diferença ainda é maior, neste caso na primeira volta, com Bolsonaro a recolher 52% das preferências dos evangélicos, contra apenas 31% do seu grande rival nesta luta pela presidência.

Resumidamente, e atendendo às sondagens dentro destes grupos religiosos, Jair Bolsonaro até poderia estar na frente das sondagens se a grande maioria do eleitorado fosse... evangélico. Mas não é. Atualmente, segundo os últimos Censos, realizados em 2010, e outros inquéritos, 50% das pessoas que votam declaram-se católicos e apenas 27% dizem-se evangélicos.

Então porque é que dizemos que se estas eleições fossem dentro de dez anos as sondagens e o curso das eleições poderia ser diferente? A resposta não está apenas em sondagens, mas também em estudos: em 2032, se a tendência continuar, a maioria dos brasileiros será evangélica e não católica. O que poderia dar alguma vantagem a Jair Bolsonaro.

IBGE

É evidente que este é apenas um exercício de raciocínio simples e hipotético, atendendo a estes últimos números sobre a tendência das pessoas que se dizem evangélicas e dizem ir votar, na sua maioria, em Jair Bolsonaro. Até porque ainda no ano passado as sondagens apontavam para uma vitória de Lula dentro deste mesmo grupo.

Com Bolsonaro atualmente na frente das preferências dos evangélicos, ou atrás, como em 2021, certo é que a transição religiosa, essa, não tem sofrido oscilações. Desde 2010, no Brasil, há uma queda das filiações católicas ao ritmo de 1,2% por ano, ao passo que há um aumento de 0,8% dos evangélicos, segundo algumas publicações consultadas. Se a tendência assim continuar, em 2032 estaremos a falar de 38,6% de brasileiros católicos, com os evangélicos a passarem 'para a frente' com 39,8%. Segundo os especialistas, esta tendência deve-se à dinâmica deste grupo religioso junto da população mais urbana, os mais pobres, os mais jovens e junto das mulheres.

Ou seja, os evangélicos acompanharam a evolução de um Brasil agrário e rural para um mais industrializado, algo que a Igreja Católica não terá conseguido. Hoje em dia é fácil ver, por exemplo, centros evangélicos em bairros importantes e com muita densidade populacional, enquanto as igrejas católicas continuam mais nos centros históricos das principais cidades brasileiras, onde, por norma, há menos população, só a laboral.

Os brasileiros estarão mesmo a caminho de uma 'mudança religiosa' e a tendência para um decréscimo de católicos não é de agora, remonta já há alguns anos, como se pode ver neste gráfico que retrata os últimos 150 anos.

evangélicos

E Jair Bolsonaro é evangélico?

Caso não saiba, uma das perguntas que os brasileiros mais fazem ao Google é 'Qual a religião de Jair Bolsonaro'?. E a razão é simples. Pela proximidade dos evangélicos ao presidente brasileiro muitos pensam que este segue a mesma ideologia religiosa, mas a verdade é que o próprio nunca o assumiu. Nem que seria católico. Daí então a tal pergunta ao Google.

As primeiras aproximações aos evangélicos terão iniciado em 2006, quando apoiou o projeto de lei 122, que criminalizava a homofobia, e em 2010, no caso do kit gay. Mais recentemente, em 2016, Bolsonaro também aceitou ser batizado por um pastor evangélico (que entretanto foi preso) no rio Jordão, em Israel, quando ainda era apenas deputado.

Consciente da força dos evangélicos no seu eleitorado, Bolsonaro tem 'dispensado' grande parte da sua agenda nos últimos meses a este grupo religioso. Em julho, por exemplo, o presidente brasileiro dedicou 10 dias a atos com pastores evangélicos, dos 25 em que tinha programas oficiais do governo.

Não é assim de estranhar que esta franja da sociedade brasileira olhe para Jair Bolsonaro de forma especial. Aliás, o próprio líder das Assembleias de Deus no Brasil, o pastor Wellington Bezerra, confessou que quer angariar o máximo de votos possíveis para o ainda líder do Planalto: "Nós vamos em busca de votos (...) Vamos multiplicar votos para o presidente Jair Bolsonaro."

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