“Sinto que tenho moralmente a obrigação de representar os que votaram em mim e não se sentem representados neste Governo e até se sentem ameaçados por este Governo”, afirmou Passos Coelho, em entrevista à SIC, lembrando que nas legislativas de há um ano se verificou uma circunstância inédita – o partido que venceu as eleições não estar a governar.
Questionado sobre se acredita ter condições de voltar a ser primeiro-ministro, Passos Coelho respondeu afirmativamente: “Não só há condições, como acho que é necessário para o país ter uma alternativa séria”.
“Não governei a olhar para as sondagens e não estou na oposição a olhar para as sondagens, esse é o perfil do Governo, não é o meu perfil”, declarou, garantindo que sairá da liderança do PSD “no dia em que achar” que está a mais.
Sobre as eleições autárquicas do próximo ano, Passos Coelho reiterou que o PSD está dentro dos prazos que aprovou para a apresentação de candidatos – “até final do ano para um primeiro lote de candidaturas e até março/abril para fechar este processo” – e desvalorizou não ter sido informado da escolha de José Eduardo Martins, um crítico da sua liderança, para coordenar o programa eleitoral autárquico para Lisboa.
“Não tenho que ser consultado sobre essa matéria, Deus me livre de me estar a pronunciar sobre matérias como essas pelo país inteiro”, disse.
Em matéria económica, o líder do PSD repetiu as críticas ao modelo do atual Governo liderando por António Costa, apontando indicadores como os do crescimento, investimento ou exportações.
“Para mim é muito claro que o tempo que estamos a viver é um tempo que está a ser desperdiçado”, disse, considerando que o modelo económico do executivo socialista “está a revelar o seu falhanço”.
Dizendo não querer “sequer acreditar” que a questão de um novo resgate se venha a colocar, Passos Coelho considerou que só a possibilidade de esse tema ser falado externamente “é um susto” e não deveria ser ignorada pelas autoridades portuguesas.
Sem nunca dizer se acredita ou não no cumprimento das metas do défice, Passos Coelho apontou um desvio de 1.300 milhões de euros na receita até agosto, “quase 0,7% do PIB” em relação ao previsto.
“O Governo está a empurrar com a barriga a atividade normal do Estado, o Estado pode decidir não gastar mas não pode decidir não gastar eternamente”, alertou.
Questionado sobre o Orçamento do Estado para o próximo ano, que deverá ser entregue no parlamento a 14 de outubro, o líder do PSD voltou a dizer que a responsabilidade desse documento é do Governo e considerou que, se a opção for a de elevar a carga fiscal indireta, será “um mau caminho”, salientando que este foi o caminho do anterior executivo socialista, liderado por José Sócrates.
“Nessa altura estava o Governo exatamente como está hoje, a aumentar impostos aflito para cumprir as metas do défice”, disse.
Questionado sobre o que distingue a opção do atual Governo do executivo PSD/CDS, que também aumentou impostos, Passos Coelho apontou a situação de “emergência nacional”.
“A grande diferença é que nós na altura não tínhamos um tostão, agora parece que temos, só ouço falar em aumentos, restituições, parece que nos saiu o totoloto ou herdámos de um familiar abastado”, criticou.
Apesar das muitas críticas ao Governo apoiado no parlamento por BE, PCP e PEV, o líder do PSD considerou normal o apoio que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tem dado ao executivo de António Costa.
“O Presidente da República creio que tem atuado bem, tem procurado criar um clima de cooperação e apoio ao Governo (…) Nesta altura é muito importante que o Presidente possa dar sinais claros de apoio ao Governo”, defendeu.
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