“Como é notório e publico, não só as condições mínimas necessárias à implementação dos projetos para os quais fui incumbido não estão a ser minimamente asseguradas, como ocorre, ao invés, uma total ausência de investimentos, que estão a provocar uma permanente situação de asfixia financeira, onde nem sequer nos é possível assegurar os compromissos já existentes, designadamente remunerações, quanto mais desenvolver qualquer tipo de projetos”, refere.

Segundo a carta de renúncia enviada ao presidente do conselho de administração, Marco Galinha, e ao presidente da comissão executiva, José Paulo Fafe, o agora ex-administrador sublinha também que o incumprimento das obrigações contratuais para com os trabalhadores dos diversos meios de comunicação do GMG deu-lhe uma “elevadíssima exposição negativa”, defendendo ser “totalmente alheio” às responsabilidades pela crise no grupo.

“Atendendo a que não estão asseguradas as mínimas condições para o desempenho do cargo, porque não estão cumpridas as promessas que me foram feitas e que esPveram na base da aceitação do mesmo, venho, pela presente, apresentar a minha renúncia, com justa causa, ao cargo de administrador e membro da comissão executiva”, acrescenta Paulo Lima de Carvalho na carta a que a Lusa teve acesso.

Entre os compromissos que foram estabelecidos para a sua entrada para a administração, Paulo Lima de Carvalho enumera as promessas de um “forte investimento” para o desenvolvimento das áreas de recursos humanos, tecnologia e inovação, além de uma estratégia empresarial que passava pelo crescimento do GMG através de aquisições e com uma perspetiva de internacionalização para o espaço lusófono.

“Não obstante o convite que me foi feito e a aceitação do mesmo, teve por base garantias, condições e pressupostos que, manifestamente, não se verificam”, resumiu.

Administrador Filipe Nascimento abandona também a Global Media

Numa carta enviada ao presidente do conselho de administração, Marco Galinha, e ao presidente da comissão executiva, José Paulo Fafe, o até agora responsável pela área financeira invocou “justa causa” para deixar o GMG e assumiu a sua “profunda mágoa e consternação”, justificando a saída com as “condições e projeto que estiveram na base do convite (…) não estarem a ser de todo cumpridas”.

“Não posso admitir que o meu nome seja arrastado para uma batalha de oportunismos empresariais, e também políticos, bem como de egos e guerras de um mercado que está demasiado prisioneiro de interesses conflituantes, nem todos preocupados com a sobrevivência e sustentabilidade das marcas jornalísticas”, frisou.

Filipe Nascimento argumentou ainda, na carta de renúncia a que a Lusa teve acesso, que “não é possível gerir financeiramente uma empresa que assiste a dramas humanos diários por falta de pagamento de salários, sem conseguir articular qualquer perspetiva decente aos trabalhadores, quanto à resolução dos problemas subjacentes a essa falta de pagamento”.

Criticou também a anulação de negócios “à 25.ª hora por questiúnculas políticas e eleitorais”, numa alusão à queda da operação de aquisição pelo Estado da participação da Global Media na Lusa, sem deixar de notar que essa situação colocou em causa a previsibilidade da entrada de dinheiro no grupo que detém Jornal de Notícias, Diário de Notícias, O Jogo e TSF.

“Diversas vezes esta carta esteve escrita e outras tantas foi apagada, sempre a aguardar que as condições melhorassem, na esperança de o grupo não ficasse sem solução para a sobrevivência no dia-a-dia, que os impostos fossem pagos e que – acima de tudo – os compromissos salariais fossem integralmente honrados”, reforçou.

Agradecendo o convite para integrar a administração em agosto, Filipe Nascimento manifestou ainda a convicção de que, “com os ajustes certos”, o grupo será financeiramente viável.

Além de Filipe Nascimento e Paulo Lima de Carvalho, a administração da Global Media já perdeu mais elementos em apenas um mês. O administrador executivo Diogo Agostinho anunciou a saída em dezembro e, segundo o Expresso, seguiram-se os abandonos dos administradores não executivos Carlos Beja e Victor Menezes.

Perante este cenário, restam na administração do GMG Marco Galinha, José Paulo Fafe, Kevin Ho e António Mendes Ferreira.

[Notícia atualizada às 07:13]