Num discurso no Forte de Santiago de Sesimbra, na abertura das Jornadas Parlamentares do PCP na península de Setúbal, Paulo Raimundo lembrou que se está “a menos de três semanas” das eleições europeias de 09 de junho e aproveitou para criticar “os constrangimentos e as imposições da UE”.
O líder do PCP considerou que a península de Setúbal é um bom exemplo de uma região que, “cheia de potencialidades”, conhece os “efeitos e as consequências desastrosas da política de direita e da integração capitalista europeia”.
Raimundo sublinhou que a região tinha um “aparelho produtivo robusto e diversificado”, que sofreu uma “profunda destruição” levada a cabo “pela política de direita de sucessivos governos, sob as ordens e ajoelhados perante as diretivas da UE”, além de ter perdido um “setor das pescas forte”.
“Portugal, um dos maiores consumidores de peixe no mundo, com uma das maiores Zonas Marítimas Económicas Exclusivas da Europa, é simultaneamente um país forçado a destruir a sua frota pesqueira e, pasme-se, é obrigar a importar peixe, peixe pescado na nossa própria costa”, criticou.
Paulo Raimundo defendeu que Portugal “consegue, pode e deve produzir mais” e considerou que é preciso ter a coragem de se “abrir um caminho para esse processo urgente e necessário, que enfrente os grandes interesses”.
“Esses grandes interesses daqueles que se acham os donos disto tudo, sempre amparados e defendidos pelas orientações da UE, cujo único objetivo que têm, para lá do rol de intenções e promessas, é acentuar ainda mais as injustiças, desmantelar e privatizar os serviços públicos, pressionar salários e pensões, pôr as mãos no dinheiro dos trabalhadores que está na Segurança Social”, acusou.
Para Paulo Raimundo, esses são os objetivos da UE para Portugal que, “curiosamente, estão todos eles contidos no programa do atual Governo”.
“O Governo que tenta passar uma imagem de que está a fazer em pouco tempo o que os anteriores governos não fizeram durante muitos anos, mas, espremidas as manobras e os anúncios, a pressa do Governo não é em resolver os problemas da maioria, é em abrir o mais rapidamente possível espaço ao negócio para os grandes grupos económicos”, afirmou.
O líder do PCP acusou o Governo de aproveitar o “drama na habitação” para “ampliar a especulação e servir os fundos imobiliários e a banca”, criticando o programa “Construir Portugal” apresentado pelo executivo.
“Nas trinta medidas avançadas, não há uma para travar o aumento das rendas, para reduzir as prestações à banca, que belisque sequer estes interesses. Bem pelo contrário, escancara-lhes as portas e as janelas. É caso para dizer que nem Vítor Bento conseguiria fazer um plano tão bom”, ironizou.
O secretário-geral do PCP criticou ainda “o número [do Governo] com o IRS”, que considerou só servir para “reduzir impostos ao grande capital”, e a medida do Complemento Solidário para Idosos que, segundo disse, só irá abranger “cerca de 140 mil idosos, dos mais de dois milhões que existem no país, um milhão dos quais no limiar da pobreza”.
“Aproveita tudo para alargar o negócio e procura encontrar todas as justificações para faltar aos compromissos assumidos com os professores, forças e serviços de segurança, médicos, enfermeiros, auxiliares, técnicos, profissionais de justiça”, afirmou.
Sobre o novo aeroporto de Lisboa, no Campo de Tiro de Alcochete, Paulo Raimundo avisou que nem o PCP nem as populações aceitariam que "se viesse a reduzir em mais um anúncio para o país e mais uns milhares de milhões de euros de lucros para a Vinci”.
“Este processo não pode andar para trás, nem sequer em pensamento: é preciso avançar mesmo para a construção faseada do aeroporto”, disse, acrescentando que deve ser essa a prioridade e não “a ampliação do aeroporto de Lisboa, com os riscos de segurança acrescidos para centenas de milhares que aí vivem e trabalham”.
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