No discurso de encerramento da IX Assembleia do Setor Intelectual da Organização Regional de Lisboa do PCP, que decorreu hoje na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Paulo Raimundo lamentou as condições precárias em que os intelectuais “cada vez mais produzem o seu trabalho”.

Para o secretário-geral do PCP, existe em Portugal um desaproveitamento de um “imenso património de saber e de conhecimento, com milhares de trabalhadores com qualificações superiores a fazerem tudo menos aquilo para que se especializaram”.

São “conhecimentos e capacidades que podiam e deviam estar a ser aproveitados pelo nosso país para responder aos desafios estruturais com que estamos confrontados, mas que são desvalorizados cá e jogados nas mãos de outros, (…) empurrados para a emigração”, lamentou.

Perante um auditório cheio, Paulo Raimundo questionou se “é do interesse dos intelectuais a política de direita, essa política da alternância dos governos que a vão executando” e cujos resultados considerou estarem à vista: “empobrecimento, austeridade e injustiça”.

“Essa alternância que se concentra todos os dias na política dos casos, que aposta no lamaçal político, essa alternância de barulho e berraria para garantir que tudo fica na mesma, essa alternância que mais conversa, menos conversa, desinveste nas funções sociais do Estado, empurrando a maioria da população para o empobrecimento ao mesmo tempo que alimenta este escândalo de acumular dos lucros”, criticou.

O líder comunista defendeu que os autores deste tipo de política dão “muito pouco do Orçamento do Estado à Cultura, à Ciência e ao Ensino Superior” e condenam de “forma crescente os intelectuais – arquitetos, psicólogos, passando por juristas – à precariedade e aos baixos salários”.

“É isto que interessa aos intelectuais? É este caminho das pedras que interessa ou o que interessa é a alternativa política, patriótica e de esquerda que propomos construir?”, salientou.

Sem nunca responder diretamente à sua pergunta, o secretário-geral do PCP sublinhou que essa política patriótica e de esquerda promoveria “um por cento do Orçamento do Estado para a cultura” e seria de “efetiva liberdade de criação intelectual, científica e artística”.

“A alternativa que estamos a construir todos os dias é do interesse dos intelectuais, de todos os trabalhadores, do povo e do país. A alternativa patriótica e de esquerda que, a cada dia que passa, é mais urgente e necessária, e que é possível construir”, defendeu.

Paulo Raimundo descartou os argumentos segundo os quais “não é possível aumentar salários e pensões”, contrapondo que estão a ser dadas “autênticas borlas fiscais aos grandes grupos económicos” e “mais de mil milhões de lucros às grandes distribuidoras”.

O secretário-geral do PCP não atribuiu as culpas desta política de direita “só à maioria do PS” que, apesar de ter “muita culpa” neste processo, também conta com as “mãos sujas, e muito sujas” do PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal.

“Quando foi e é preciso, juntos ou à vez, PS, PSD, Chega e IL contribuem para o chumbo sistemático das nossas propostas, ora votando contra, ora abstendo-se, mas sempre empenhados no atual rumo e no aprofundamento, desta ou daquela forma, da política de direita”, salientou.

Dirigindo-se aos militantes do PCP que o ouviam, Paulo Raimundo considerou que a época atual é de “perigos e potencialidade, mas não aponta para a aceitação do sistema de exploração”, desafia antes “a trilhar o caminho do ideal e do projeto comunista”.

O secretário-geral do PCP considerou que esse caminho “exige o reforço do partido em todas as frentes”, deixando um apelo aos militantes: “Há espaço para continuar a alargar o partido, para chegar mais longe, para continuar a recrutar mais, para ir à conversa”.

“Todos aqueles que nos batem à porta são bem-vindos, mas nós não podemos ficar à espera que nos batam à porta, é preciso tomar essa iniciativa para irmos nós bater-lhes à porta”, pediu.