“Não acompanhamos a expressão final desse protesto, nas condições que aqui identificou, mas aquilo que marca não foram esses lamentáveis incidentes, o que marca são aqueles milhares de pessoas que saíram à rua por justas razões, que tiveram e que continuam a ter”, declarou.
Paulo Raimundo falava numa conferência de imprensa na sede nacional do PCP, em Lisboa, em que apresentou as conclusões de uma reunião do Comité Central do partido que decorreu no domingo.
Segundo Paulo Raimundo, a manifestação “Casa para Viver”, que decorreu no sábado em Lisboa e na qual participou, ficou marcada pelas reivindicações dos milhares de pessoas que saíram à rua pelo direito à habitação e não pelos confrontos com a polícia.
“Incidentes como aqueles são lamentáveis, achamos que não deveriam ter acontecido. Aliás, se não tivessem acontecido, nós estaríamos a falar sobre outra coisa: sobre os conteúdos da manifestação e daquilo que levaram as pessoas à rua, e não sobre os acontecimentos em si”, disse.
Questionado se teme que a frequência de manifestações com participação de movimentos inorgânicos possa gerar mais confrontos e escapar ao controlo da organização sindical, como já aconteceu em França, Paulo Raimundo referiu que o seu partido valoriza todas as ações de luta “com objetivos justos”, independentemente de quem a organiza, das suas formas ou dimensões.
O secretário-geral do PCP salientou que, a nível mundial, se tem assistido a “milhares ou milhões de pessoas” nas ruas, que estão a protestar por “justas razões”.
“Se a sua vontade fosse a de fazer aquilo que depois algumas pequenas dezenas ou centenas de pessoas fazem no fim, isto era um caos. Ora, não é isso que se passa”, salientou.
Paulo Raimundo reforçou que o que marca as manifestações que estão a decorrer em todo o mundo “não são esses distúrbios no fim”, mas antes as reivindicações de aumentos de salários, de luta contra o aumento da idade de reforma, ou pela paz.
“No nosso caso também é assim. (…) O que marca é uma grande vontade de lutar, de exigir respostas aos problemas de cada um, e as suas justas reivindicações”, disse.
Nesta conferência de imprensa, Paulo Raimundo defendeu que a “dimensão e intensificação da luta de massas” tem resultado em “inúmeras vitórias e conquistas, em particular ao nível do aumento de salários”, e forçado o Governo a anunciar medidas.
“Mesmo limitadas e insuficientes, sublinha-se que foi a luta que obrigou o Governo a admitir necessidades que até há pouco tempo não queria reconhecer”, destacou.
Paulo Raimundo lamentou, contudo, que as medidas anunciadas passem “ao lado do essencial” e não belisquem “os lucros e interesses dos grupos económicos, para lá de legitimar os preços altamente especulados”.
“É assim nas medidas do chamado combate à inflação, como é no apelidado pacote ‘Mais Habitação’, onde também se anunciaram medidas atrás de medidas mas sem se ir buscar um cêntimo que seja aos lucros da banca e dos fundos imobiliários, antes pelo contrário”, criticou.
Neste contexto, Paulo Raimundo apelou à “intensificação da luta”, desde logo com “uma forte mobilização para as comemorações do 25 de abril e para a jornada de luta do 1.º de maio”.
Questionado se considera que o caráter mais frequente das manifestações se deve também à nova liderança do PCP e ao seu trabalho de consciencialização dos trabalhadores, Paulo Raimundo defendeu que o que “faz mover as pessoas” são as suas reivindicações e designadamente “a justeza e urgência dos aumentos de salários”.
“Essas são as razões fundas que trazem as pessoas à rua e à luta. (…) O PCP está ao lado, está fora desse processo? Não tem contribuído? Tem, tem contribuído com a sua intervenção, ação, com o seu papel de mobilização. Não nos pomos fora disso, mas aquilo que faz as pessoas saírem à rua são as suas justas reivindicações”, frisou.
No sábado decorreu em Lisboa a manifestação “Casa para Viver”, que juntou milhares de pessoas em protesto contra o aumento das rendas e dos preços das casas.
No final da manifestação, manifestantes e polícia envolveram-se em confrontos, na praça do Martim Moniz, resultando na detenção de duas pessoas.
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