Começando por ser questionado sobre a Operação Influencer, que originou a atual crise política, o candidato à liderança do PS sublinhou a necessidade de uma clarificação da Procuradora-Geral da República (PGR). “Tenho o dever de me impor uma disciplina férrea sobre este tema”, referiu.
Disse ainda estar “tão preocupado como os portugueses” e que “a justiça tem o seu tempo, mas é importante que os portugueses saibam” o que se passou.
Sobre a clarificação da situação de António Costa, sublinhou que deve estar concluída “o quanto antes”, respeitando os tempos da justiça. “Não sou eu que vou impor prazos”, diz.
Confessa ainda que recebeu a notícia das buscas no âmbito da Operação Influencer “com preocupação, porque teve um impacto muito significativo na nossa democracia”.
“E continuo com o mesmo nível de preocupação. Mas acho sinceramente que devemos respeitar o tempo da justiça e que devemos respeitar a presunção de inocência de todos os envolvidos”, aponta.
Partindo depois para os motivos para se voltar a confiar no PS, o candidato à liderança do partido afirma que “António Costa deixa um legado muito importante para o país” e que a interrupção da legislatura não se deve à “situação económica e social” nem a um “descontentamento generalizado” da população.
“Ao fim destes oito anos, há marcas muito importantes. Temos muitos problemas por resolver. Mas não podemos ignorar que foram anos em que se criaram mais de 600 mil postos de trabalho e a economia portuguesa cresceu acima da média europeia. António Costa deixa um legado muito importante para o país”, afirma.
Passando às diferentes polémicas que envolveram o governo, nomeadamente que levaram à sua própria saída, o antigo responsável pela pasta das Infraestruturas referiu a "prática política que teve resultados na vida das pessoas" e recordou as sondagens que põem o PS à frente do PSD "apesar de tudo que estamos a viver".
“O PS tem sido o garante de estabilidade, de política económica e social”, diz ainda.
Ainda sobre as saídas do Governo, disse ainda que “temos vindo a aperfeiçoar o escrutínio”, mas isso “não se sobrepõe” ao legado de Costa.
“Não tenho a menor dúvida que temos de ir aprendendo com os 50 anos da democracia. E cada acontecimento deve servir de lição para o futuro. Temos vindo, ao longo do tempo, a aperfeiçoar o nosso escrutínio sobre quem governa”, diz.
Abordando uma possível maioria absoluta numa futura legislatura, diz que a discussão deve estar nas medidas e não na “política de alianças”, considerando, porém, que o cenário de não existir uma maioria absoluta é “possível e provável”.
Admite ainda a possibilidade de uma nova geringonça tendo em conta que a anterior "foi um sucesso".
“O PS vai-se apresentar a eleições com o objetivo de mobilizar o povo português para uma vitória. A partir daí, procuraremos as soluções que permitem implementar o programa do PS”, acrescenta.
Já sobre a ameaça à direita do Chega, afirma que só trabalha num "cenário de vitória do PS" e que o "Chega não é um problema do Partido Socialista". Recorda ainda o acordo do PSD nos Açores com o partido de André Ventura e remata com a afirmação de que "Se se quer derrotar o Chega só há um voto, que é no Partido Socialista".
Numa segunda parte da entrevista, já em direto na CNN Portugal, falou sobre a boa relação que mantém com António Costa e na força que reconhece a José Luís Carneiro, seu adversário dentro do partido nas eleições do partido. "Tenho grande consideração por José Luís Carneiro e sei que os militantes do PS também têm", sublinha. Acrescenta ainda que "sempre tive à espera que José Luís Carneiro tivesse muitos apoiantes dentro do partido, como é óbvio, é alguém de quem os militantes gostam e é normal que tenha os apoios que se têm tornado públicos".
Questionado sobre quem é o maior herdeiro do legado de Costa, destaca apenas que “é muito importante este legado”, recusando assumir uma posição. “Nós os dois fomos membros do Governo e temos orgulho”.
Diz ainda que a luta interna “não tem sido assim tão acesa” e admite que "todos os cenários são possíveis", inclusive o da derrota interna. “No dia a seguir às diretas, eu e José Luís Carneiro estaremos juntos qualquer que seja o resultado final”, afirma.
“Faço, como sempre fiz, campanha pelo PS. E não tenho dúvidas que José Luís Carneiro fará campanha por mim se ganhar. Não tenho a menor dúvida de que o PS estará unido”, acrescenta.
Sobre futuras alianças, não exclui conversas com o PSD, nomeadamente em matérias de regime que são imprescindíveis serem discutidas em conjunto. Porém, não ignora que "hoje temos um PSD que está radicalizado, não só com um líder que disputa com o Chega, como um PSD que depende da Iniciativa Liberal", afirma.
"É importante distinguir um PSD dependente de um CDS e um PSD dependente de uma Iniciativa Liberal. O CDS é um partido que sempre teve no seu quadro programático e de valores a doutrina social da Igreja, o que, aliás, permitiu que a democracia cristã em toda a Europa colaborasse com os Partidos Socialistas na construção do Estado Social, e hoje não temos essa presença na vida política parlamentar e a Iniciativa Liberal não tem nada a ver com o CDS. É um projeto radical com um uma visão diametralmente oposta ao Partido Socialista", diz.
Voltando ao tema da possível geringonça de esquerda, diz que "a memória da geringonça é boa", mas que nesta fase não é possível explicar em que contornos seria feita uma aliança à esquerda. Acrescenta que não se trata de uma questão de conquistar o eleitorado ao centro, mas de foco na procura do “melhor resultado possível”.
Questionado se, tal como Montenegro, não governará se não ganhar as eleições, sublinha que “não há uma equivalência entre o Bloco e PCP e o Chega”, começa por reagir.
“O problema do PSD não tem paralelo com a realidade à esquerda”, realça.
Novo aeroporto
Tendo o novo aeroporto sido uma das grandes polémicas da sua pasta ministerial, o antigo ministro diz que "houve um acordo entre o governo e o PSD sobre a metodologia a seguir", e promete que "esse processo não será posto em causa por mim".
Porém, garante, "haverá uma decisão com ou sem acordo do PSD". “Não podemos é ficar paralisados mais uma vez. É um crime que fazemos ao país”, diz.
Questionado se prefere Alcochete para a localização do novo aeroporto, Pedro Nuno Santos diz que é “avisado” esperar pelo relatório da comissão técnica independente.
A questão da TAP
Partindo do aeroporto para a TAP, o futuro candidato à liderança do PS afirma que “defendi sempre que o capital da TAP devia ser aberto a privados”. Já sobre o calendário do processo previsto para 2024, diz que “não há pressa”. “Estamos a falar de uma empresa que está saudável do ponto de vista financeiro e operacional”.
Afirma ainda que o Estado "só preserva a sua posição negocial" se não se apresentar como "desesperado". Os prazos, acrescenta, acabam por "desvalorizar o negócio" e defende que o Estado deve manter mais de metade do capital na TAP.
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