Apelidando-se de cidadãos anónimos, as quatro pessoas mostram inicialmente resistência em identificar-se à reportagem da agência Lusa, que os encontrou na aldeia de Barraca da Boavista a distribuir ajuda a uma família a quem fogo destruiu uma casa, um camião semirreboque, "que era o sustento da família", e o automóvel.

"Quisemos vir dar uma palavra amiga e distribuir alguns alimentos não perecíveis", disse Ernesto Moura, de 52 anos, que chegou sábado de Angola, onde trabalha, e hoje quis "praticar ajuda direta a quem precisa".

Saíram de Gaia às 08:30, com sete "packs" alimentares na mala do automóvel, que vão distribuir pelas aldeias às pessoas que vão contactando e que sofreram muito com o trágico incêndio, que consumiu mais de 80% do território de Pedrógão Grande.

No terreno, um grupo de voluntários dos Bombeiros de Ericeira anda a entregar roupas e mobiliário a famílias referenciadas por Cláudia, uma voluntária de Vila Franca de Xira que anda pelo território afetado há mais de duas semanas e criou no Facebook a página "Ajudar famílias e bombeiros em Pedrógão Grande".

É a este grupo que os dois casais de Gaia começam por recorrer para identificar as pessoas necessitadas de ajuda.

"O nosso lema é: venham cá, nem que seja tomar um café, transmitir boa energia e vontade de ajudar", sublinha Ernesto Moura, que é gerente empresarial em Luanda.

Ana Simões, bombeira nos voluntários de Ericeira, é a responsável da equipa que anda, pelo segundo domingo consecutivo, a distribuir roupas e móveis de porta a porta, diretamente às famílias atingidas pelo fogo.

"É mais eficaz esta distribuição, do que entregar em instituições", refere a voluntária, salientando que, inicialmente, entregaram a ajuda angariada a entidades dos municípios mais atingidos: Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos.

Por entre curvas e vales que escondem aldeias que quase foram engolidas pelas chamas, a reportagem da agência Lusa cruza-se ainda com outros voluntários "anónimos" que distribuem alimentos e árvores de fruto para plantar.

O incêndio que deflagrou em Escalos Fundeiros, em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, alastrou a Figueiró dos Vinhos e a Castanheira de Pera, fazendo 64 mortos e mais de 200 feridos.

As chamas chegaram ainda aos distritos de Castelo Branco, através do concelho da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra e por Penela, consumindo mais de 50 mil hectares de floresta.

[Notícia atualizada às 19:11, corrigindo o primeiro parágrafo.]