Nas recomendações do projeto “Desenho do Futuro – Portugal sem VHC [Vírus da Hepatite C]”, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) e da Universidade Nova de Lisboa, sugerem também o financiamento de medicamentos disponíveis e ainda não comparticipados e a criação de um fundo de financiamento para a inovação.
Nestas sugestões, que serão hoje apresentadas em Lisboa, os investigadores reconhecem que muito tem sido feito nesta área em Portugal, mas consideram importante a formação dos especialistas em medicina geral e familiar para que, com a ajuda destes, se possa chegar aos doentes ainda não diagnosticados.
“Estes medicamentos são de dispensa exclusivamente hospitalar. O médico do centro de saúde não pode prescrever estes medicamentos e quando falamos na formação é na preparação para lidar com estas populações, que normalmente são acompanhadas pelos hospitais e já numa fase mais adiantada”, explicou à Lusa Rute Simões Ribeiro, investigadora da ENSP.
A investigadora irá apresentar as recomendações do estudo, elaborado em colaboração com um grupo de peritos nacionais e que aponta orientações, a nível nacional, para cumprir o objetivo da Organização Mundial da Saúde para 2030 de eliminar a infeção pelo vírus da hepatite C.
“Existem múltiplos dados e ações já definidas, que têm vindo a ser recolhidas e consensualizadas por vários grupos de trabalho na tentativa de elaboração de um plano nacional estratégico (…). Continua, porém, em falta a definição de objetivos específicos e indicadores que, dentro de um prazo determinado, possibilitem a monitorização”, consideram os autores.
Nas recomendações, os peritos apontam o rastreio populacional a todos os grupos de maior risco (toxicodependentes, população prisional e nascidos entre 1945 e 1975) e sublinham a importância de sensibilizar toda a população para a doença, com campanhas de informação e anúncios publicitários.
Na área do financiamento, defendem ainda um modelo integrado, com um contrato-programa com base na totalidade do tratamento com internamento e transplante, o que implica a classificação da hepatite C “como não crónica na ótica do financiamento”.
A utilização de parte das verbas dos jogos sociais para a criação de um fundo para a inovação é outra das recomendações: “O importante é salvaguardar que existe um fundo que permita acomodar a introdução da inovação (…) para que o sistema esteja preparado para isso porque os doentes não podem esperar”, sublinhou Rute Simões Ribeiro.
Os peritos defendem igualmente uma mais rápida atualização das normas de orientação clinica (NOC), para que estas acomodem a inovação, e a aplicação das NOC nos serviços de saúde acompanhada de um programa de formação, em cascata, na área da Hepatite C.
“É preciso que os médicos que prescrevem os medicamentos os conheçam e saibam como devem ser utilizados”, afirmou a investigadora.
Os especialistas sugerem também a abordagem do VHC na perspetiva de Saúde Pública, com interligação a outras áreas.
“Têm sido dados passos importantes, mas (….) um pensamento traduzido numa ação que integre todos os parceiros e atores do sistema, segurança social, prisões, não conseguimos dar conta disso. Apesar de notarmos algumas ações que se aproximam do que é importante, não conseguimos ver a interação de todos”, considerou.
Sublinhando a importância dos médicos de medicina geral a familiar em todo o processo, assim como dos cuidados primários, a investigadora lembra que é preciso continuar a seguir estes doentes, que estão curados, mas podem vir a ser reinfectados.
As recomendações deste estudo vão ser apresentadas hoje na conferência “Hepatite C, Pensar o Futuro”, que decorrerá na Escola Nacional de Saúde Pública.
Durante o encontro, que contará com diversos especialistas na área, entre os quais a diretora do programa nacional das hepatites víricas e o gastrenterologista Rui Tato Marinho, será igualmente abordado o projeto internacional Path to Zero, que tem como objetivo promover esforços globais e atribuir responsabilidades para a eliminação da infeção pelo vírus da hepatite C em todo o mundo.
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