“Sempre achei estranho, desde os meus tempos de adolescente, este ramo das Forças Armadas não estar envolvido no combate aos incêndios, como estão as outras forças aéreas de Espanha, Grécia, Croácia e Marrocos”, disse à Lusa Jorge Pereira, autor da petição “Queremos a nossa Força Aérea Portuguesa novamente no combate aos incêndios!”.
A petição pública, que hoje registava na internet 31.853 subscritores, vai ser entregue no dia 30 de agosto a um dos vice-presidentes da Assembleia da República, Jorge Lacão (PS).
“Foi muito difícil conseguir assinaturas para um tema quase desconhecido da população portuguesa”, admitiu Jorge Pereira, 49 anos, que nas últimas semanas viu aumentar de apenas 9.000 adesões à petição para as três dezenas de milhares.
No documento, o desempregado, residente em Odivelas, recorda que “a FAP chegou mesmo a operar o C-130 Hércules com o sistema MAFFS [Modular Airborne Fire-Fighting System, na sigla em inglês], de combate a incêndios”, nos anos de 1980 e 1990.
Além do desejo de a FAP voltar “a combater diretamente o flagelo dos incêndios”, a petição acrescenta que o país “não pode nem deve dar-se ao luxo de não envolver de forma mais direta tão importante instituição ao serviço de Portugal”.
“Temos cá a Força Aérea Real de Marrocos e a Força Aérea de Espanha, que estão a operar os aviões Canadair”, apontou Jorge Pereira.
O cidadão considerou que, “se não existem meios, é porque estão a descapitalizar a Força Aérea e porque foram investir fundos” noutras áreas que podiam servir para este tipo de missão.
“A Força Aérea é o sítio certo para estar o combate aos incêndios, porque têm ‘know how’, têm bases aéreas, têm pilotos. Se eles neste momento não estão preparados deem-lhes os meios que eles vão estar”, defendeu.
O promotor da petição reconheceu que a FAP “precisa de quatro a cinco anos para pôr um sistema viável a funcionar” e notou que “é preciso escolher um meio aéreo que seja polivalente”.
O problema dos incêndios “não se resolve só com o meio aéreo”, concedeu Jorge Pereira, que procura contribuir para o debate, “uma vez que se está a investir em meios de empresas privadas, se criou a Empresa de Meios Aéreos e se utilizaram os ‘kits’ MAFFS”.
Para já, quer a ministra da Administração Interna, quer o ministro da Defesa, admitiram avaliar um maior envolvimento da FAP no combate aos incêndios florestais.
Em comunicado, a FAP esclareceu que, a partir de 1982, operou os MAFFS na frota C-130H Hércules, “equipamento que permitia adaptar aquelas aeronaves à realização de missões de combate direto (largada de água) e indireto (largada de calda retardante) a incêndios”.
“Porém, fruto da reorganização de meios de combate a incêndios, sob a tutela da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), esse sistema foi descontinuado há cerca de 20 anos e, atualmente, é inexistente”, explica a FAP.
Na mesma nota, de 14 de agosto, acrescenta-se que “a capacidade para realização de missões de combate direto a incêndios, que implica, naturalmente, a qualificação de tripulações e de pessoal de manutenção, para além da definição do respetivo conceito de operações, poderá, no entanto, vir a materializar-se faseadamente, num futuro próximo”.
Uma alteração que poderá acontecer “no âmbito dos vários projetos de reequipamento em curso, designadamente, ao nível da substituição do C-130H Hércules e da renovação da frota de helicópteros ligeiros”, lê-se no documento.
A petição só pretende “contribuir para a discussão” de uma solução para um flagelo que afeta o país, reiterou Jorge Pereira, que quer também entregá-la ao Presidente da República e ao Governo.
Comentários