"Eu nunca estive não reconciliada. Eu estive simplesmente zangada [com Portugal]. Não é preciso fazer as pazes, as coisas resolvem-se por si próprias", afirmou a pianista à margem da cerimónia de atribuição da Medalha de Mérito Cultural, por parte do Ministério da Cultura, que decorreu no Centro de Belgais, em Escalos de Baixo, Castelo Branco.

Maria João Pires disse que não estava à espera desta distinção e admitiu mesmo que ficou surpreendida.

"Não estava de todo à espera. Fiquei surpreendida e fiquei muito feliz, na medida em que eu vejo um futuro para Belgais”, disse a pianista, considerando ainda a presença da ministra da Cultura “um incentivo enorme para continuar a lutar e chegar ao objetivo".

"A forma de se promoverem as artes está num impasse e tem que haver um lugar em que se experimentem novas formas que sejam úteis para as pessoas. Belgais é um laboratório. Há muitos no mundo e em Portugal, também. Sinto que posso e tenho a capacidade de colaborar com todas as pessoas que queiram encontrar soluções", considerou Maria João Pires.

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, atribuiu hoje a Medalha de Mérito Cultural à pianista, numa cerimónia em que esteve presente também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, destacando o seu “serviço de exceção” na divulgação cultural e a sua “entrega à música”.

Maria João Pires, de 74 anos, criou em 1999 o Centro Belgais para o Estudo das Artes, em Escalos de Baixo, Castelo Branco, um projeto educativo, pedagógico e cultural, com impacto na região, que chegou a ter o apoio do Ministério da Educação. Dez anos depois, em 2009, o centro encerrou alegando na altura uma "difícil situação económico-financeira".

No ano passado, o projeto foi renovado e reativado como Centro de Artes de Belgais, disponibilizando retiros musicais, espaço para atuações e oficinas de música.