O atual ministro da Justiça e chefe da Polícia Federal (PF) brasileira, Sergio Moro, é um dos principais visados nas investigação do The Intercept, que revelou alegadas mensagens secretas, obtidas de uma fonte anónima, trocadas entre Moro e procuradores da Operação Lava Jato, à época quando era o juiz responsável por analisar os processos da investigação em primeira instância.
De acordo com O Antagonista, a Polícia Federal pediu ao Conselho de Controlo de Atividades Financeiras (Coaf) um relatório das atividades financeiras do jornalista, com o objetivo de verificar qualquer movimentação atípica que possa estar relacionada com uma alegada invasão dos telemóveis de integrantes da Operação Lava Jato.
Numa audiência realizada na terça-feira na Câmara dos Deputados, Sergio Moro foi questionado diversas vezes, por deputados da oposição, se a Polícia Federal teria realmente pedido ao Coaf um relatório sobre as atividades financeiras de Glenn Greenwald, mas o ministro da Justiça não respondeu diretamente à questão.
Apesar da insistência, Moro declarou que a questão deve ser colocada “ao órgão certo”.
Foram muitas as figuras políticas, assim como órgãos ligados à liberdade de expressão que se manifestaram contra os “ataques” a Glenn Greenwald e à “liberdade de imprensa”.
“Sergio Moro está a usar o Ministério da Justiça e a Polícia Federal pra atacar a liberdade de imprensa. Numa tentativa de intimidação, a PF pediu um relatório sobre atividades financeiras do jornalista Glenn Greenwald do The Intercept. Atitude típica de regimes autoritários”, escreveu o deputado do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) Marcelo Freixo, na rede social Twitter.
O líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados brasileira, Paulo Pimenta, falou em “perseguição política” ao comentar o caso.
“Atenção, mundo! Sergio Moro é o chefe da Polícia Federal. Ao colocar o órgão para investigar movimentações financeiras do jornalista Glenn Greenwald, Moro está a aparelhar a estrutura do Governo brasileiro para promover perseguição política e coação”, escreveu Paulo Pimenta no Twitter.
Glenn Greenwald lidera o portal de jornalismo de investigação The Intercept, e é o jornalista a quem o ex-analista norte-americano Edward Snowden revelou os programas de espionagem da Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA, na sigla em inglês).
Na sua conta do Twitter, Greenwald não se mostrou intimidado pela eventual quebra do seu sigilo fiscal, declarando que nada o impedirá de continuar a divulgar as reportagens acerca da operação Lava Jato.
“Como eu disse desde o início – tanto no caso Snowden quanto no caso Moro Lava Jato-, nenhuma intimidação ou ameaça interromperá as reportagens. Ameaças do Estado só servem para expor o seu verdadeiro rosto: abuso do poder – e por que eles precisam de transparência, de uma imprensa livre”, escreveu o jornalista.
“Você, Moro, vai e “investiga” tudo o que quiser. Grupos de liberdade de imprensa em todo o mundo terão muito a dizer sobre isso. Enquanto você usa táticas tirânicas, eu continuarei a reportar junto com muitos outros jornalistas, de muitos outros jornais e revistas”, concluiu Glenn Greenwald.
Num comunicado divulgado nesta terça-feira, a ‘Freedom of the Press Foundation’ (Fundação Liberdade de Imprensa, na tradução para português) fala numa “violação chocante dos direitos” de Greenwald, como repórter, e em “abuso de poder” por parte do Governo brasileiro.
“Investigar criminalmente o jornalista Glenn Greenwald por reportar sobre corrupção (…) é uma violação chocante dos seus direitos como repórter. Pior, a mesma pessoa que é o principal assunto da reportagem do The Intercept – o ministro da Justiça, Sergio Moro – também teria autoridade final sobre qualquer investigação da Polícia Federal”, frisou o diretor executivo do ‘Freedom of the Press Foundation’, Trevor Timm.
“Não é apenas um ataque ultrajante à liberdade de imprensa, mas um abuso grosseiro de poder. Os jornalistas não se devem preocupar com assédio, ameaças de morte ou enfrentar investigações do Governo por relatar a verdade sobre pessoas poderosas”, acrescentou Trevor Tim.
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