Há várias teorias a tentar explicar as razões por que os ingleses vão às urnas a uma quinta-feira (e não a um domingo, por exemplo). As sextas-feiras não funcionavam: era dia de pagamento e, por isso, os eleitores iam para o pub, ficando demasiado ocupados para se preocuparem com a escolha dos representantes políticos.
Há também quem diga que é por ser o dia mais afastado da influência dos ordenados (tradicionalmente pagos às sextas) gastos nos pubs (tabernas), o que punha os eleitores sob a influência dos interesses das cervejeiras, e dos sermões de domingo, que permitiam aos clérigos influenciar o voto.
Para além disso, a quinta-feira era frequentemente o dia de mercado, logo as pessoas deslocavam-se às cidades. Já que lá estavam, podiam ir às cabines de voto e depositar nas urnas as suas escolhas.
Outra razão, talvez mais racional, tem a ver com o facto de, sendo os resultados conhecidos na madrugada de sexta-feira, o novo primeiro-ministro ter todo o fim de semana para formar governo, permitindo, assim, uma transição de poder mais suave, com o governo já alinhado para iniciar funções na segunda-feira seguinte.
A verdade, contudo, é que não há nenhum dia específico para realizar as eleições gerais. Ainda assim, desde 1931 que se têm realizado às quintas-feiras. Nos anos 1970, porém, duas eleições parciais tiveram de ser antecipadas para uma quarta-feira: é que na quinta começava o campeonato do mundo de futebol.
Depois de os resultados [favoráveis à saída do grupo dos 28] do Brexit terem sido conhecidos, David Cameron, primeiro-ministro do Partido Conservador, apresentou a demissão, tendo sido substituído por Theresa May, do mesmo partido. A primeira-ministra britânica, contudo, decidiu antecipar em três anos as eleições gerais, por achar que essa é a forma de o Reino Unido conseguir uma melhor posição nas negociações com a União Europeia.
Em busca de “união” em Westminster, o parlamento britânico, a primeira-ministra antecipa assim as eleições que estavam marcadas, desde 2011, para 7 de maio de 2020. May diz que as divisões dentro do sistema ameaçavam perturbar a negociação da saída da ilha da União Europeia.
Por outro lado, membros mais antigos do partido Conservador, instaram Theresa May a aproveitar a boa onda que o partido cavalgava nas sondagens, acima dos Trabalhistas de Jeremy Corbyn.
Depois de os deputados aprovarem a antecipação, a data marcada foi o próximo dia 8 de junho, uma quinta-feira, claro está. O parlamento foi dissolvido no dia 3 de maio, 25 dias úteis antes das eleições, dando-se início à campanha eleitoral. Os deputados ficam sem os salários, mas Theresa May continua a governar o país.
As urnas estarão abertas das 7h00 da manhã às 10h00 da noite, sendo os resultados normalmente conhecidos por volta das 3h00 ou 4h00 da madrugada de sexta-feira. Às 22h00, porém, uma sondagem à boca das urnas deverá dar indicação dos resultados.
Depois das eleições de 2015, os Tories (Partido Conservador) tinham 331 lugares no Parlamento; o Labour (Partido Trabalhista) 232 assentos; o SNP (Partido Nacional Escocês), ocupava 56 lugares; o Lib Dem (Democratas Liberais) tinha 8; o Plaid Cymru (Partido de Gales) ocupava 3 lugares; o UKIP (Partido Independentista Britânico), segurava um lugar; e os Verdes ocupavam, também um lugar apenas. No total, em disputa estão 650 lugares.
Antes da dissolução, no início de maio, várias eleições parciais alteraram ligeiramente a composição do parlamento, continuando os Tories de May na liderança, com 330 deputados e os Trabalhistas com 229.
Tal como cá, o Reino Unido e uma democracia parlamentar. Os britânicos não vão votar para escolher um primeiro-ministro, mas antes para escolher os representantes dos seus círculos eleitorais no parlamento nacional. Como em Portugal, o governo é normalmente formado pelo partido ou coligação de partidos que ganhe a maioria dos deputados na Câmara dos Comuns - a câmara baixa do parlamento britânico. O líder desse partido é, então, empossado primeiro-ministro.
Todavia, como o caso português mostra, não é obrigatório que o partido com mais lugares seja quem vai formar governo. O importante não é conquistar lugares, mas sim apoio para formar governo, a menos que consigam a maioria dos deputados, mais um (326 deputados), para assegurar o apoio ao governo.
Este ano, as sondagens dizem que os principais partidos são os Tories, o Labour, o LibDem e o UKIP. As sondagens têm revelado alguns resultados inesperados, tanto no próprio Reino Unido, com o resultado, que muitos viram como inesperado, do Brexit, o referendo que espoletou todo o processo. Apesar disso, a distância que separa os dois principais partidos dos restantes (partidos que têm detido o poder desde 1922), diz-nos que a escolha será entre Theresa May (Partido Conservador) e Jeremy Corbyn (Partido Trabalhista).
Porém, o apoio - ou não - dos restantes partidos pode ser essencial caso nenhum dos partidos consiga ganhar sozinho a maioria. Nessa conjugação de forças, portanto, todos os números são importantes para sabermos quão unido está o reino que quer sair da União Europeia.
Tanto os Tories como o Labour afirmaram já que vão avante com o Brexit. Ainda assim, os Trabalhistas de Jeremy Corbyn são apologistas de um “soft Brexit”, isto é, uma saída suave da União Europeia.
Contudo, há um pormenor do Brexit que pode afetar os resultados finais desta eleição geral, muito embora não se possa já analisar correlações. É que os representantes de alguns círculos apoiaram uma posição no referendo contrária àquela que os eleitores desses círculos escolheram. Por exemplo: a deputada trabalhista de Vauxhall, no sudoeste de Londres, apoiou o Brexit, porém, apenas 22% dos eleitores desse círculo pediram para sair da UE.
O poll tracker do Financial Times, que reúne várias sondagens para uma previsão mais precisa, mostra que os Tories seguem na frente, com 44% das intenções de voto, seguidos do Labour com 35%. As margens, porém, têm vindo a diminuir desde que a campanha eleitoral se iniciou - cujas regras obrigam os media a tratar os partidos de forma semelhante.
Depois do atentado em Manchester, no passado dia 22 de maio, as previsões não sofreram grandes desvios. Quem tem caído consistentemente, mesmo após a explosão no final de um concerto na Manchester Arena, é o partido independentista UKIP, que fez campanha pelo Brexit usando a imigração e o terrorismo como algumas das principais bandeiras.
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