
A OMD desafiou esta quinta-feira os candidatos às legislativas e autárquicas, deste ano, a colocarem a saúde oral nas suas prioridades e em conversa com o SAPO24 traçou o plano para os convencer.
"Mais de seis milhões de portugueses sem pelo menos um dente; 1 milhão de pessoas que nunca vai ou vai menos de uma vez por ano ao médico dentista; 300 mil não têm consultas por falta de dinheiro; 28 por cento da população tem a falta de 6 ou mais dentes. Estes números são o melhor argumento para convencer a classe política. A verdade é que os sucessivos governos nunca se preocuparam com a saúde oral dos portugueses e nas implicações que tem na saúde sistémica das pessoas. Uma dentição saudável tem um impacto enorme na saúde dita normal, nomeadamente nas doenças cardiovasculares e na diabetes e de outras patologias, como é o caso dos distúrbios do sono. O investimento na Saúde Oral, além do impacto positivo noutras doenças, é um importante elemento no combate às desigualdades sociais, na mitigação da pobreza e na promoção da saúde mental. Bastaria que os políticos cumprissem com o que se comprometem todos os períodos eleitorais e não seria necessário estar com planos e estratégias para os convencer da necessidade de uma efetiva saúde oral", diz Miguel Pavão.
O Bastonário critica assim o falhanço das atuais políticas no que à medicina dentária diz respeito, revelando também alguns casos particulares do que tem acontecido nos últimos anos.
"Não há uma carreira de medicina dentária no serviço nacional de saúde. É inadmissível que os médicos dentistas que atuam no SNS sejam considerados técnicos superiores. Estão ilegais no SNS. Há gabinetes de saúde oral nos cuidados primários parados, porque não há condições para atrair estes profissionais altamente qualificados. A integração de médicos dentistas no SNS prevista até 2020 não aconteceu. Depois passou para 2025 e voltou a não acontecer. Apenas dois por cento dos portugueses têm acesso a cuidados de saúde oral através do SNS. O valor do cheque dentista não foi revisto durante 11 anos. Foi criado em 2008 com 40 euros, foi cortado para 35 em 2012, e só em 2023 passou para 45. Nesse mesmo ano estava prevista a criação de dois novos cheques-dentista e também não aconteceu. Tudo isto coloca Portugal na cauda da Europa, no que diz respeito às necessidades dentárias não satisfeitas", refere.
Outro caso considerado prioritário é a resolução da falta de acesso a saúde oral de 300 mil portugueses, com Miguel Pavão a apresentar soluções.
"Uma solução interessante era aumentar o financiamento das atuais ULS de 1017 euros por habitante para 1100 euros. Estamos a falar de apenas 83 euros para cada português ter acesso a cuidados efetivos de saúde oral. Mais do que fazer é preciso ter coragem política para concretizar medidas que garantam aos portugueses cuidados de saúde oral. Este novo ciclo político nacional e autárquico é o momento certo para os governantes dizerem se querem fazer alguma coisa ou se vão continuar a ignorar a saúde oral de quem lhes dá votos. É importante que os políticos percebam que a Saúde Oral é relevante para a opinião pública. Mais de 98 por cento dos portugueses pedem acesso à saúde oral através do SNS. Os portugueses merecem que os políticos definam uma estratégia efetiva para a saúde oral imune aos ciclos políticos. Uma estratégia de complementaridade entre os setores público e privado, para aproveitar uma rede com milhares de consultórios espalhados pelo país", conclui.
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