Um dia depois de o Fundo Monetário Internacional (FMI) ter revisto as previsões para a economia portuguesa, melhorando ligeiramente as perspetivas de crescimento deste ano para 6,2%, mas cortando as do próximo ano para 0,7%, revelando-se assim mais pessimista do que o Governo, António Costa comentou os dados afirmando que o seu Governo está a ganhar "sete a zero" ao FMI nas previsões do crescimento.

“É uma velha tradição. Este é o oitavo orçamento que eu apresento e não me lembro um único em que as previsões, nomeadamente do Fundo Monetário Internacional, não divirjam das previsões que nós apresentamos”, disse António Costa, concluindo: “Ao longo destes oito anos, eu não quero garantir, mas devo dizer que estamos, para já, sete a zero. Vamos a ver este ano”.

Na semana passada, o primeiro-ministro português afastou um cenário “de não crescimento e menos ainda de recessão” no próximo ano, e antecipou que a economia vai “continuar a crescer acima da média europeia”.

“Este ano somos o país da União Europeia que teve um crescimento mais alto, no próximo ano [haverá] recessão em muitos países europeus, e nós necessariamente não somos imunes e, portanto, Portugal vai crescer menos do que cresceu este ano, mas não vamos ter nenhum cenário de não crescimento e menos ainda de recessão”, salientou.

De acordo com o primeiro-ministro, o cenário económico para 2023, no qual assentará o Orçamento do Estado, é “de crescimento moderado, ajustado às realidades do tempo” que “assenta numa desaceleração significativa da taxa de inflação e sobretudo uma preocupação fundamental que é a chave para a política económica, que é podermos manter o emprego e podermos sustentar sem alimentar a espiral de inflação aquilo que são os rendimentos das famílias e a capacidade de competir das empresas”.

“Depois de termos este ano um crescimento muito acima dos 6% e que foi o mais elevado da União Europeia, no próximo ano vamos obviamente ter o nosso crescimento ajustado aquilo que é a evolução da zona euro. Portanto, não vamos ter crescimentos desta ordem, nada que se pareça, mas é um cenário onde podemos ter confiança que o país vai continuar a crescer, vai continuar a crescer acima da média europeia e a aproximar-se dos países mais desenvolvidos da União Europeia”, apontou Costa.

Apesar da veia goleadora do primeiro-ministro, Fernando Medina mostrou-se hoje um conservador no que à arte da análise do progonóstico de jogo diz respeito, afirmando que estas previsões do FMI "não são muito distintas das que o Governo e o Conselho das Finanças Públicas apresentam".

Segundo o ministro das Finanças, "há uma diferença: é no método das previsões do FMI, que trabalha num cenário que não considera as políticas que estão inscritas no Orçamento do Estado".

Fernando Medina referiu que as projeções do FMI não consideram os apoios aos rendimentos das famílias nem as medidas fiscais que totalizam quase 2.000 milhões de euros, deixando ainda de fora as medidas para os pensionistas e os apoios às famílias vulneráveis, de cerca de 1.500 milhões de euros, entre outros exemplos.

"Aquelas previsões são feitas - já foram feitas há bastante tempo - num cenário como se não houvesse políticas no orçamento e, por isso, quando se compensa desse efeito, as projeções não andam muito longe", sublinhou o ministro.

"Aliás, uma das questões levantadas tinha sido as projeções do Governo face à inflação e a projeção do FMI aproxima-se bastante da que o Governo faz", rematou o governante.

No documento entregue esta segunda-feira no parlamento, o executivo português diz prever que o crescimento desacelere para 1,3% no próximo ano, mas o FMI está mais pessimista e vê a economia portuguesa a crescer 0,7%, abaixo dos 1,9% previstos em junho.

Já a instituição de Bretton Woods prevê uma taxa de inflação para Portugal de 4,7% em 2023, o que compara com os 4% previstos pelo executivo português.

Afinal, que resultado assinala o placard para o ano que promete ser, depois do início da década, o jogo da nossa vida?